Sound Pilot e Powderfinger Type (Peterson Quadros)

Estava completamente sem idéias, quer dizer, muitas vontades, porém pouca concretização. Já tinha largado o PC e voltado ao caderninho de anotações. As pessoas para as quais eu escrevo me cobravam diariamente. Onde estão os textos? Precisamos de novas crônicas com urgência!
Deixei passar algumas edições dos jornais e outros cronistas acabaram assumindo. Eu estava assustado. Passei a tomar o dobro de café em manhãs apáticas, sentado no parapeito da janela, olhando a rua, com o pensamento distante.
Por que isso tinha que acontecer justo comigo? Bom, acontece com todos. Li algo assim na internet. Eu era um cara tão criativo! Quase tudo era motivo para uma boa história. Adorava aquela tela do Word aberta, a nova versão eletrônica do Aurélio. Tudo fluía com tanta naturalidade. Agora nem mais o caderno. Nenhum parágrafo, só os desenhos das corujas. Dezenas, centenas, milhares, de tamanhos e formatos diversos. A única coisa que sei desenhar: Tusnelda, minha personagem, meu símbolo. A tela do word continuava branquinha, “alva”, como escreveria Cruz e Souza, nosso principal poeta.
Outro dia lembrei-me das férias na fazenda. A velha Olivetti que descobri na garagem de meu sogro. Quantas páginas escritas. Aventuras endêmicas. Coisas do planalto serrano. O saudosismo das aulas de datilografia percorreu minha alma. Sou da última geração que realmente teve contato com a máquina de escrever. Hoje elas estão jogadas em algum canto escuro ou fazem parte dos acervos de museus das pequenas cidades.
De repente fui tomado por uma súbita vontade de ler aquilo que escrevi no passado, trancado no meio do mato, utilizando a velha tecnologia.
Peguei a escada e puxei a horrenda caixa onde guardo textos antigos. Encontrei preciosidades. Chorei, ri, sofri e me inspirei um bocado.
Quem sabe se eu comprasse uma?
O problema seria ter que reescrever tudo no computador, coisa que não gosto, nem tenho saco para fazer. O tempo se esgotava, eu perdia espaço nos jornais de bairro.
Estava completamente desesperado, até que encontrei o Sound Pilot, um programa que reproduz no computador o som de uma máquina de escrever e a fonte Powderfinger type cuja letra lembra uma Olivetti Lettera 82.
Enfim, depois da incrível descoberta, encontrei novamente o caminho das histórias. Reconquistei alguns jornais e fiz as pazes comigo mesmo, sem tantas xícaras de café.

FIM

Se você quiser baixar os programas, utilize os links abaixo:

http://baixaki.ig.com.br/download/Sound-Pilot.htm

http://pt.fontstock.net/9405/Powderfinger-Type.html