Gosto das manhãs. Aliás, sou homem com hábitos diurnos. É verdade que levei algum tempo para apreciá-las realmente e isso só foi possível porque durante a tarde eu trabalho como professor de quarta série em uma escola de ensino fundamental e à noite eu chego pregado.
Normalmente acordo entre sete e oito horas. Momento do café. Faz duas semanas que aprendi a fazer expresso e aposentei a cafeteira. A preparação é pura técnica e tudo depende da precisão no domínio daquele equipamento forjado em ferro, made in China com design italiano. Você coloca água até a marca, depois o funil, pó de café, parafusa todas as peças do bule para que haja pressão e acende uma das bocas do fogão. Admira a chama azul pelo tempo de uma piscada e “coloca a água para ferver”.
Logo o cheiro domina o ambiente. Tenho por hábito abrir a janela da área de serviço. Deixar o sol entrar um pouco, olhar as nuvens ou sentir a chuva. Depois tomo o café, como um pão e alguma fruta.
Nas manhãs de saída parto para o mundo. Supermercado, banca de revista, caminhada, condicionamento físico, banco, lotérica, curso de libras, eventualmente uma ida ao centro da cidade comprar tecido, agulhas ou outro aviamento.
Já as manhãs de apartamento são diferentes. Detesto a manhã de limpeza do aquário das tartarugas. Evento quinzenal que necessita de toda uma logística. Interfere no apartamento inteiro, da área de serviço até a sala. Um ir e vir repleto de baldes, bacias e panos de chão. Para falar a verdade, em comparação, mais chato ainda é o dia da faxina matinal. Manhãs terríveis e dolorosas!
Boas mesmo são as manhãs de planejamento, leitura, ócio, inglês ou costura. Enquanto faço essas coisas, a imaginação borbulha e se mistura com problemas não resolvidos, próprios de uma geração que está aprendendo a viver no mundo pós-aquecimento global. Reparei que não sentimos mais o inverno e fiquei desesperado ao perceber que abandonei as calças e passei a vestir bermuda durante todo o ano. Isso me entristeceu profundamente, mas também me fez mudar, sem esperar recompensas imediatas. É engraçado, mas as manhãs são excelentes para qualquer começo.
Lembro da manhã em que iniciei a separação do lixo, ou me toquei que não precisava deixar a torneira aberta enquanto passava a esponja nos pratos. Descobri que um banho de cinco minutos pode ser revigorante e que deixar o carro na garagem para andar de ônibus é a maior fonte de inspiração de todas. Luzes ligadas e deixadas a esmo não são legais e o óleo de cozinha, quem diria, guardado em garrafa pet, jamais jogado na pia, pode ser muito útil para elaborarmos uma estatística detalhada de quanta fritura estamos ingerindo.
Outro dia, no café da manhã, lembrei da aula em que minha professora de terceira série puxou uma faca e, num único e certeiro golpe, dividiu uma laranja em duas metades. Ela falou umas coisas esquisitas, segurava a fruta de modo estranho e proferiu um emblemático discurso sobre poluição, cidade grande, sítio e floresta. Crescemos achando que aquilo era o meio ambiente. Depois daquele episódio passei a me sentir parte e não todo. Esses foram meus olhos de infância e meu sentimento enquanto adulto.
Despertei em uma manhã comum. Entendi que não precisava fugir para um sítio ou me embrenhar na floresta para encontrar o meio ambiente. Observei então que eu não era só parte, que metade é diferente de meio e mesmo eu, um ser urbano, sou completo e vivo inteiro, bem no meio de um ambiente que por sinal, se chama apartamento.
Normalmente acordo entre sete e oito horas. Momento do café. Faz duas semanas que aprendi a fazer expresso e aposentei a cafeteira. A preparação é pura técnica e tudo depende da precisão no domínio daquele equipamento forjado em ferro, made in China com design italiano. Você coloca água até a marca, depois o funil, pó de café, parafusa todas as peças do bule para que haja pressão e acende uma das bocas do fogão. Admira a chama azul pelo tempo de uma piscada e “coloca a água para ferver”.
Logo o cheiro domina o ambiente. Tenho por hábito abrir a janela da área de serviço. Deixar o sol entrar um pouco, olhar as nuvens ou sentir a chuva. Depois tomo o café, como um pão e alguma fruta.
Nas manhãs de saída parto para o mundo. Supermercado, banca de revista, caminhada, condicionamento físico, banco, lotérica, curso de libras, eventualmente uma ida ao centro da cidade comprar tecido, agulhas ou outro aviamento.
Já as manhãs de apartamento são diferentes. Detesto a manhã de limpeza do aquário das tartarugas. Evento quinzenal que necessita de toda uma logística. Interfere no apartamento inteiro, da área de serviço até a sala. Um ir e vir repleto de baldes, bacias e panos de chão. Para falar a verdade, em comparação, mais chato ainda é o dia da faxina matinal. Manhãs terríveis e dolorosas!
Boas mesmo são as manhãs de planejamento, leitura, ócio, inglês ou costura. Enquanto faço essas coisas, a imaginação borbulha e se mistura com problemas não resolvidos, próprios de uma geração que está aprendendo a viver no mundo pós-aquecimento global. Reparei que não sentimos mais o inverno e fiquei desesperado ao perceber que abandonei as calças e passei a vestir bermuda durante todo o ano. Isso me entristeceu profundamente, mas também me fez mudar, sem esperar recompensas imediatas. É engraçado, mas as manhãs são excelentes para qualquer começo.
Lembro da manhã em que iniciei a separação do lixo, ou me toquei que não precisava deixar a torneira aberta enquanto passava a esponja nos pratos. Descobri que um banho de cinco minutos pode ser revigorante e que deixar o carro na garagem para andar de ônibus é a maior fonte de inspiração de todas. Luzes ligadas e deixadas a esmo não são legais e o óleo de cozinha, quem diria, guardado em garrafa pet, jamais jogado na pia, pode ser muito útil para elaborarmos uma estatística detalhada de quanta fritura estamos ingerindo.
Outro dia, no café da manhã, lembrei da aula em que minha professora de terceira série puxou uma faca e, num único e certeiro golpe, dividiu uma laranja em duas metades. Ela falou umas coisas esquisitas, segurava a fruta de modo estranho e proferiu um emblemático discurso sobre poluição, cidade grande, sítio e floresta. Crescemos achando que aquilo era o meio ambiente. Depois daquele episódio passei a me sentir parte e não todo. Esses foram meus olhos de infância e meu sentimento enquanto adulto.
Despertei em uma manhã comum. Entendi que não precisava fugir para um sítio ou me embrenhar na floresta para encontrar o meio ambiente. Observei então que eu não era só parte, que metade é diferente de meio e mesmo eu, um ser urbano, sou completo e vivo inteiro, bem no meio de um ambiente que por sinal, se chama apartamento.