Para que jamais esqueçamos as nossas bundas

A bunda, segundo a mídia do senso comum, é um objeto de adoração. Com uma boa bunda a mulher consegue o status de fruta e assim pode aparecer em programas televisivos incultos e machistas. Eu, portanto, não quero falar disso aqui no blog.Existe uma dimensão da bunda como um todo e das partes que a compõe que está além desse tal objeto de desejo. A cobiçada bunda é, além de um instrumento de prazer, também o cano de escape por onde flui (quando tudo vai bem) aquilo que o nosso corpo não mais precisa. Sendo assim, as bundas do mundo requerem atenção e cuidado.

Não no sentido puramente estético… Bunda sem celulite, com silicone, empinada e com as periferias do orifício central clareadas. Isso não imprime o cuidado que devemos ter para com essa almofadada região do nosso corpo.

Em princípio cada um cuida da sua. A limpeza cotidiana é algo íntimo, privado. Fico sempre a pensar nas grandes personalidades e na higienização das suas nádegas e fossos.  Barack Obama, sua provável bunda morena e sem pelos, em algum banheiro da casa branca. Suando frio, forçando a barriga e empurrando aquilo que não mais lhe cabe, enquanto a poucos metros dezenas de assessores o aguardam, talvez até o primeiro ministro de algum país europeu.  Angela Merkel e sua bunda branca, molenga e talvez peluda, puxando freneticamente o rolo de papel higiênico.  Até a nossa Dilma que também, creio eu, tem uma bunda, se apressando em algum banheiro de Brasília antes de entrar ao vivo para uma entrevista com a Miriam Leitão.   Imaginem o Kim Joung-un ignorando a sua bunda no ato supremo da defecação por estar quase alcançando três estrelas em algum nível do Angry Birds versão Star Wars. Bom, todos eles vão ao banheiro, soltam seus tão humanos grunhidos e deixam em seus requintados vasos sanitários restos tão comuns quanto os nossos. Depois se limpam, invadem países, espionam blogues como este, criam armas atômicas de incrível poder e por aí vai…

Eu, como pedagogo social, adentro com minha intima e excêntrica família numa esfera que transcende a minha própria bunda.

Ao contrário de um enfermeiro que se depara com bundas anônimas, eu me dedico especificamente as bundas de Thommy e do senhor Raio de Sol. Posso dizer que conheço cada poro, cada depressão oriunda das celulites encravadas naquelas montanhas de pele e gordura, além do vale da sombra da morte peludo e da última etapa da rede de saneamento básico daqueles dois seres.

Existe na limpeza que se sobrepõe ao meu próprio corpo, algo de divino. Uma tradição cristã que metaforicamente é retratada pelo lava pés. Poderia, por que não, ser o lava bundas. A bunda carrega a essência da genial, porém gasta e desbotada pelo número infinito de postagens e repetições, frase de Galeano… A bunda é uma festa.

Eu estou sempre atento a um roxo oriundo de uma batida do senhor Raio de Sol ou da hemorroida que de tempos em tempos tortura meu nobre amigo Thommy, fazendo-o tomar o amargo extrato de Hammamelis e me obrigando a passar pomada por toda aquela região. Ele silencia. Eu faço inconscientemente caretas e ao final, dando um tapinha em uma das suas nádegas, brinco: Por hoje é só pessoal.