A viagem

Um título desses pode significar muitas coisas… No caso em questão refere-se as nossas férias. No último post escrevi, convicto, que não sentiria frio em minha terra. Besteira! Dia onze chegou, o avião aterrissou e uma onda de frio intenso tomou conta do sul do mundo fazendo nevar até em Pomerode. Batemos os queixos e até agora não participei de manifestação alguma.
Eu gosto sempre de pensar em quando as histórias começam e essa teve início, em uma noite qualquer, na casa do meu compadre Otto.
Ele que morava a umas quatro casas da nossa, no conhecido trecho antigo da vila, me chamou para efetuarmos a compra  das passagens juntos. Eu mais a minha minúscula família de três. Ele e sua tropa de cinco. 
Para nós, simples férias. Para eles, uma nova vida: A volta planejada, depois de mais de quinze anos, ao Brasil e, dessa vez, para ficar.
Fazia frio quando nos encontramos e rompemos a noite em uma compra on-line. Queríamos a garantia de que viajaríamos todos juntos. Isso custou demorados telefonemas para o ineficiente atendimento Tam linhas aéreas.
Foi uma sangrenta batalha até fecharmos negócio. Nossa trupe ocupou seis poltronas. Quatro adultos, duas crianças, dois bebezinhos de colo e um bocado de vizinhos temerosos.
Bebês são imprevisíveis e em um avião não há como fugir deles, seus choros e manhas. Essa combinação explosiva fez com que a mulher ao nosso lado levantasse o mais rápido possível para procurar um local, o mais distante possível, vago. Educada, voltou com a desculpa de que queria nos deixar mais à vontade com o bebê.  Num gesto cortês, agradecemos e aproveitamos muito bem o assento disponível. Sendo que no jantar, por esquecimento da mesinha aberta, até ganhamos da comissária de bordo uma bandeja de cortesia.
Antes da decolagem, com exceção da juventude do papa, o mundo ao nosso redor sofria imaginando os gritos daqueles, até então, inofensivos bebês. Vi gente pedir tampões de ouvido, outros chacoalhavam a cabeça.
Engraçado é que os bebês comeram, dormiram, riram e em nenhum momento choraram. 
As crianças curtiram cada segundo da epopeia e nós adultos ficamos entretidos em nosso mundo atulhado de pensamentos.
Quando descemos em Guarulhos a correria foi grande. Caça as malas, fila para o check-in… Precisávamos ser rápidos, pois a nossa viagem continuava. Os nobres amigos ficariam ali.
Abraços curtos porém recheados de sentimento marcaram aquele último momento. A família que vimos crescer na Alemanha e que participou ativamente da nossa nova vida, ficou ali com suas malas, com suas crianças, com seu amor, força e coragem para continuar a sua própria história.

Foto: Divulgação Comigo na viagem