Os bancos escondidos de nossas vidas

Todos nós temos nossos esconderijos. Mesmo os presos políticos enjaulados por suas ideias, em minúsculas celas, tem seus lugares secretos. Para eles, a alma é o refúgio oculto.
Eu vivo em uma casa com dezoito pessoas. Os encontros constantes são uma fatalidade. Embora sejamos, em maioria, seres sociais, a solidão temporária ocupa um papel fundamental em nossas vidas. Enquanto estamos a sós com o cosmos, tendemos a deixar a eterna interpretação sartriana de lado e acabamos por ser honestos com nós mesmos.
Quando penso em solidão, me lembro das poltronas do papai espalhadas pelas salas da classe média das gerações anos 70, 80 e 90 onde, após um dia exaustivo de trabalho ali se sentavam os homens de família. Eles transcendiam a realidade tomando cerveja, vinho, conhaque… Em determinado momento da madrugada, antes de adormecerem, deparavam-se consigo mesmos. Muitos se suicidaram, a grande maioria continuou a repetir-se, infelizmente um número reduzido acordou e fez acontecer.
Aqui no Richthof eu também tenho meus escapes, encontros secretos com o meu próprio eu. Muitas vezes, sentado nesses lugares eu medito, outras vezes me deixo levar por pensamentos soltos que borbulham em emoções. Tem dias que aproveito para ler partes de um livro ora em alemão ora em português. Em espaços esporádicos de tempo um ou outro aldeão passeia ao longe. Com a coluna ereta, entre o céu e a terra, em assentos simples de madeira, completamente sozinho, me sinto pleno. Queria transformar minutos em horas, horas em dias, dias em semanas e semanas em uma vida, só…

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