Companheiro revolucionário Rony (O provocador)

Toda revolução precisa de alguém que incite, desafie, provoque. Uma pessoa que tenha a coragem de romper impulsivamente com aquilo que fora preestabelecido por algum burocrata qualquer.
Estávamos lá, naquela cidade de não mais do que vinte mil pessoas esquisitas. A copa do Mundo de 2010 se desenrolava com o Brasil fora. Nossos clarinhos amigos riam e faziam piadinhas sobre nós, a fraca seleção “samba und caipirinha”. A euforia da vitória dos batatas sobre a Argentina foi manifestada em gritos, carreatas e a certeza da conquista do tetra.
Rony, nosso subversivo de plantão, no auge dos seus quase um metro e setenta, paulistano puro (quer dizer puramente misturado), com um chapéu que provavelmente foi comprado em algum rodeio crioulo, cabelo de molinhas, cansado de ser achincalhado, aguardou, como todo sábio revolucionário, o momento adequado.
Chegaram as semifinais: Alemanha contra Espanha. Decidimos que veríamos o jogo no epicentro da agitação germânica em Engen, ele torcendo declaradamente e a plenos pulmões contra, obviamente.
Com a bandeira verde-amarela na cintura procurou um bar no centro da cidade, com direito a telão e tudo. Faltando quinze minutos, o lugar estava lotado. Famílias com suas crianças gordinhas, casais de velhinhos sorridentes e, como não podia deixar de ser, os musculosos e tatuados cabeças raspadas, com suas camisetas admoestativas: Não roubem nossos empregos!
Tudo muito amarelo, vermelho e preto. Cerveja para todos os lados, muita alegria até que, em determinado momento, uma só voz ecoou pelo salão. O grito ibérico de gol, proferido por Rony, calou a então lacrimejante torcida alemã. Naquela noite ele corajosamente pulou, gritou, dançou e festejou uma vitória que também passou a ser nossa.