Primeiro texto depois das férias (Peterson Quadros)

As férias estão acabando. Acho que já escrevi isso em outro texto, na verdade sempre estou repetindo essa frase, ela me atormenta. Daqui a algumas horas deixarei o sítio e retornarei para cidade, para os compromissos, para frente da tela do computador. Serei lobotizado pela “tv” a cabo, superficial e enfadonha. Confesso que estou triste com a partida. Todos esses dias de ócio no Planalto Serrano seguiram uma rotina simples, porém intensamente prazerosa.
Acordar, tomar café, pegar uma cadeira na garagem, escolher um lugar ao sol para ler e esperar ser chamado para o almoço. Sempre uma comida tropeira, feita no fogão á lenha, coisa típica de serrano. A taça de vinho acompanhava e dava ânimo para a conversa que rolava solta, depois de agradecer a Deus pelo alimento, é claro. Feita a refeição, um pote de sobremesa e a limpeza da cozinha. Em seguida uma deliciosa e prolongada sesta.
Ao acordar novamente, uma boa leitura até o entardecer. A celebração do dia acontecia em uma caminhada até o campo onde dava para ver o sol ir embora. Momento de aplaudir e se preparar para a noite. Banho quente, pijama. No quarto, o charme da luz fluorescente e da penteadeira transformada em mesa de trabalho. O pequeno banco foi substituído por uma cadeira “emprestada” da mesa de jantar. A antiga máquina de escrever, que todo ano preciso resgatar da garagem, estava pronta e contava com uma centena de folhas branquinhas ao seu lado. Foi ali que sentei e escrevi muito. Esperava alguém bater na porta, convidando para alguma sopa de vegetais, leve e saborosa, acompanhada de queijo parmesão, pão e vinho “Sangue de uva”, bordô, produzido na região de Pinheiro Preto. Propaganda de meu sogro.
No último dia, com a cozinha limpa, hora de assistir ao jornal. Simone, ao meu lado, teceu sem parar um tapete novo para o corredor do apartamento. Fora da casa o vento brincou de fazer frio em um dos lugares mais gelados do nosso país. Permanecemos na sala, com cobertores cobrindo nossas pernas até de madrugada. Assistimos a um antigo filme, jogamos cartas, rimos e adormecemos com uma ponta de angústia pelo dia de amanhã. É algo passageiro, normal e necessário.