Todos os caminhos levam a Stanza della Segnatura e a Polizia di Stato

Eis que as bombas explodiram e eu, de forma estoica, sobrevivi aos seus estilhaços. Como regalo ao fato de estar vivo, presenteei-me com uma viagem a Roma. Entre tantos e tão difusos interesses, um se sobrepunha aos demais: Eu queria ver “A escola de Atenas” o famoso afresco de Rafael. Muito antes de a Filosofia ter entrado em minha vida a tal pintura já me fascinava. Tantos personagens ali representados, os diferentes olhares, posturas e modos de sentir o mundo.


Percebi diante da imponência da Stanza della Segnatura como nos tornamos obcecados pela razão.

O cômodo, pequeno para tanta gente, cintilava flashes. Cada ângulo era disputado. Braços seguravam câmeras enquanto poses eram ensaiadas. Falava-se alto. Casais abraçavam-se, beijavam-se, apertavam-se felizes por ter como pano de fundo a famosa pintura. Tudo eram fotos e somente fotos.

Engraçado é que sem perceber entrei na trágica brincadeira, afinal eu tinha direito ao meu quinhão de lembranças. Fiz poses, acotovelei delicadamente os que queriam roubar meu espaço, empurrei suavemente alguns que se prostraram diante de mim, sorri falso, pedi desculpas. No fim, um pouco triste, eu percebi que a pura e simples contemplação tornara-se impossível. Aquilo que foi, foi…

Depois de sete dias, a cidade da Loba, de Rômulo e Remo também me furtou a carteira com cartão de banco e carta de habilitação. Aturdido diante da beleza do coliseu, tive que encarar um metrô imundo, entupido de gente esquisita que me levou a delegacia de furtos onde uma fila imensa de japoneses sem máquina fotográfica, americanos sem mochila, ucranianos sem passagem e um catarinense sem dinheiro tiveram de esperar para serem mal atendidos e achincalhados pela Polizia di Stato.