Solidão e liberdade

As pessoas se assustam quando conto que minha carga horária de vida se resume em vinte e quatro horas, sete dias por semana, sem trinta dias anuais de férias. Não tenho trabalho fixo. Sou pago para, de alguma forma, sobreviver. Richthof não é um lugar comum. A convivência intima com a loucura e com os problemas da alma entranham-se pelos meus poros até chegar a lugares inimagináveis dos meus corpos.
Daqueles que começaram comigo, muitos caíram em doença, outros fugiram, tantos morreram, poucos, porém, são os que continuam. Quando eu subi a montanha não imaginei aquilo que viria. Até então tudo era aventura, piada, deboche, insensatez. Pouco em mim era verdade e a seriedade não passava de um parente distante. Naquele pico de inverno, ao abrir a porta do carro, faltou-me o chão, e, como o passo derradeiro de alguém à beira de um precipício eu, mesmo não enxergando o fim, pulei.
Os seres fantásticos que habitam este espaço, a presença constante, as reuniões, os discursos, meditações, infortúnios, negações, a morte e a vida em uma excêntrica família foi o grande salto que dei. Estar no mundo e, ao mesmo tempo, fora dele te dá uma sensação esquisita de solidão e liberdade.

arcanjo michael