Sol de primavera

Embora as árvores ainda estejam peladas e as temperaturas não ultrapassem os dez graus Celsius, a primavera aqui no Richthof se manifesta de forma tímida, porém plena.
Enquanto acompanho Thommy no seu caminhar de volta para casa, sinto a força, ainda que tênue, de um sol distante. O céu pesado e cinzento dos últimos quatro meses se abre em uma mescla azul e amarela.

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A pluralidade infinita de flores que experimentei em boa parte de minha vida subtropical esvaiu-se aos trinta. Hoje, dada a escassez, em boa parte do ano, de uma flora colorida e cheirosa, aprecio com demasiada atenção o encontro com esses seres essenciais para a alegria humana.
São mais ou menos quatrocentos metros entre a marcenaria onde Thommy trabalha e a casa Jawlensky onde moramos.
Apesar de algo quotidiano o caminhar entre a imensidão dos alerces é um fenômeno incrivelmente único. Thommy, com seu andador sem tração alguma, é em si um ser incrivelmente lento. Estar com ele é ganhar de presente a possibilidade da contemplação do imperceptível.
Foi com Thommy, ou melhor, com o tempo quase infinito que ele me deu que aprendi a olhar as margens prosaicas do caminho, os cantos comuns e obsoletos.
Penso que é por isso que, dentre todos aqui da minha excêntrica família, este ano eu fui o primeiro a descobrir os ninhos pitorescos de uma estação que ainda está por vir.

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