Eu necessitava encontrar, o mais breve possível, um puxador interno para o meu Lupo. Como eu disse na última postagem, o ferro-velho mais próximo ficava a uma centena de quilômetros de minha casa.
Foi então que meu vizinho sabichão me contou sobre a extraordinária “Schlachtfest”. Ao ouvir tal palavra, meu cérebro começou a trabalhar com afinco. O que seria uma “Schlachtfest”? “Schlacht”, em alemão, significa batalha. Teria eu que duelar com alguém para conseguir o puxador? A Grande Alemanha não podia ser assim tão medieval. Além do mais, eu nem tinha uma armadura. Estaria em desvantagem. Poderia talvez entrar na luta com o manto sagrado do meu pai e que ele, com lágrimas nos olhos, me deu de presente na última visita: Uma camisa oficial do Flamengo da época do Zico. Mesmo assim eu seria massacrado.
Além do mais, como alguém pode festejar uma batalha? “Fest” vem de festividade. Que gente mais louca! Teria eu que ir armado? Sou completamente contra armas (tirando o canivete suíço). Na dita “Schlachtfest” viria o prefeito de Schlitz e entoaria ele um discurso emocionado relembrando as memoráveis batalhas da segunda maior cidade do Estado de Hessen?
Certamente seria servido, enquanto eu estivesse largado no chão a sangrar feito um mísero “Ausländer”, “Bratwurst” e cerveja preparada de acordo com a lei de pureza alemã (Reinheitsgebot) de 1516.
E a minha Simone? Meu Deus! Em meio a uma pandemia, ficaria ela viúva, com três filhos e um Lupo sem maçaneta. Provavelmente ela olharia o Lupo como Lívia olhou o Saveiro de Guma no clássico romance Mar Morto de Jorge Amado e depois o pilotaria como uma heroína.
Meu vizinho sabichão percebeu o pavor em meu rosto e começou a explicar-me o dito ou dita “Schlachtfest”…
Quando um automóvel não é aprovado na inspeção bianual, perde quase todo o valor. Vender o carro é ganhar uma ninharia. Sendo assim, o mais vantajoso é desmontá-lo e comercializar as peças individualmente. Muita gente faz isso. Procura na internet “Lupo Schlachtfest” que você acha rapidinho uma maçaneta (Türgriff). Não é que o sabichão estava certo?Vocês não imaginam o alívio que foi ouvir aquilo. Confesso que, por um momento, simpatizei com o gajo. Ele não só salvara minha vida, mas livrou Simone de uma viuvez precoce e o Lupo de ir para o ferro-velho.