São Wanderley

O Hospital e Maternidade Rio do Testo é, talvez, uma das instituições mais importantes do nosso município e, com razão, nos enche de orgulho.
É um lugar onde, muitas vezes, chegamos enfermos e desesperançosos. Ali, com a dedicação de uma equipe deveras competente, somos cuidados, tratados e saímos, na maioria dos casos, curados.
No térreo daquele prédio outrora branco, hoje, como tantos outros, verde musgo, funcionava o consultório do Doutor Wanderley. Quando adentrei na vida adulta, deixei das coisas próprias de menino, inclusive o qualificadíssimo pediatra Doutor John.
Na aurora dos meus treze anos incompletos eu era um rapagão rechonchudo e dominado por uma severa acne. Na época meu rosto, meu ser, minha vida, minha alma, resumiam-se em dor e pus.
Foi quando mergulhei naquele recinto asséptico. Um cheiro de álcool e sabonete Phebo dominavam o ambiente. Livros grossos de capa dura enfileiravam-se em uma estante de madeira maciça. Uma balança analógica num canto, objetos metálicos esquisitos no outro, um porta-retratos com a foto dos filhos pendurado na parede. Sentado em uma cadeira ergométrica, Ele! Rosto redondo, poucos cabelos, um quase sósia do cartunista Maurício de Souza. Estatura de Napoleão Bonaparte e uma dicção de fazer inveja ao Pavarotti.
O Doutor, em silêncio, levantou-se. Sacou o estetoscópio do jaleco, ergueu a minha camiseta e pediu para eu respirar fundo. Sentou-se novamente, me olhou com profundidade nos olhos, pegou um bloquinho e rabiscou algo. Dias depois, meu rosto era uma seda.
Quando a vesícula biliar de meu pai quase explodiu, foi Doutor Wanderley quem operou e, num último instante, o salvou.
Certa vez, foi a unha do meu dedão que encravou e inflamou. Já tinha acontecido uma dezena de vezes. A sensação era de que, mais dia, menos dia, eu perderia o pé. Com toda a dificuldade, manquei até o consultório daquele Hipócrates moderno (Tem uma corrente espiritualista que acredita piamente que Doutor Wanderley é a própria reencarnação do “pai da medicina”). Ele me operou imediatamente. Com seu bisturi dourado, cortou-me a unha, cauterizou-a e fez um curativo mágico. Era um milagre, o meu milagre, o milagre do Doutor Wanderley.
Quem com Ele se consultou, sabe do que estou a falar.
Quantas vidas foram salvas por este santo senhor.
Se tivéssemos uma gruta no finzinho da Rua Primeiro de Maio, certamente, centenas de milhares de placas “uma graça alcançada” seriam penduradas em sua homenagem.
Milagres seriam reconhecidos. Se não trabalhasse em um hospital luterano, seria beatificado e canonizado pela Igreja Católica. Reconhecido por milhares de peregrinos como São Wanderley, o santo de todos os pomerodenses.