
A entrada de São Miguel aqui na Alemanha coincide com o outono, com as primeiras geadas, com o cair das folhas. Tempo de ligar a calefação, de o ar ficar seco e, aos poucos, insuportável. Já tentei todos os truques e segui todos os conselhos para a tal elevação da umidade relativa do ambiente. Primeiro os potes de cerâmica com água em cima dos aquecedores. Nada adiantou. Depois a toalha de banho encharcada jogada sobre o aquecedor. Somente um maldito odor de cachorro molhado se manifestou.
Até um daqueles borrifadores automáticos que a cada 30 segundos umedece o quarto eu comprei. O ar, pasmem, continuou nojento e intragável.
Até um daqueles borrifadores automáticos que a cada 30 segundos umedece o quarto eu comprei. O ar, pasmem, continuou nojento e intragável.
Bom, mas e o dragão? Ele continua a me atormentar em forma da maldita coceira que toma conta do meu corpo. Faz quatro anos que sofro esse suplício. Começa com São Miguel e acaba na páscoa quando os dias passam a ser mais quentes. Eu pareço estar possuído. Fico a me coçar e a me remexer feito um louco. Sinto-me um cão sarnento a roçar paredes e cantos da casa.

Desesperado, tentando fugir das pomadas a base de cortisona, eu acabei por me consultar com um renomado homeopata em Kassel, cidade natal dos irmãos Grimm.
Quase uma hora a dialogar com o homem. Contei a minha vida, respondi perguntas, mostrei a ele as garras do dragão em meu corpo. Ele analisou, sem luvas, aquelas ranhuras, franziu a testa, ajeitou os óculos, sorriu e afirmou: Fique tranquilo, eu sei exatamente o seu problema.
Quase uma hora a dialogar com o homem. Contei a minha vida, respondi perguntas, mostrei a ele as garras do dragão em meu corpo. Ele analisou, sem luvas, aquelas ranhuras, franziu a testa, ajeitou os óculos, sorriu e afirmou: Fique tranquilo, eu sei exatamente o seu problema.
Fiquei, num primeiro instante, feliz. Afinal saber o problema é um grande passo em direção a cura. Além disso, ele sorriu e disse para eu ficar tranquilo. Como confiamos nas pessoas. A confiança é um ato quase natural do ser humano.
Bom, o místico discípulo de Hipócrates prosseguiu…
Na verdade, o caso é simples, muito simples, Seu Quadrrrros. É assim que você se chama, não é mesmo?
Eufórico, eu, com meus olhos arregalados e minha cabeça a acompanhar os movimentos daquele senhor, respondi que sim! Quadrrrros era o meu nome e eu queria, mais do que tudo naquele instante, o diagnóstico.
Sendo sincero, o único problema seu Quadrrrros, é fato de o senhor banhar-se todos os dias. Aconselho, para o seu bem, no máximo, veja bem, no máximo, duas duchas por semana, OU, cortisona…
A história vai acabar por aqui. Não vou abrir para vocês a minha, tão sofrida, decisão. Na verdade estou meio sem tempo, tenho que comprar uns desodorantes, talcos e coisas do gênero.