Quarentena ostentação

Um áudio desastroso como o do Roberto (In)Justus não me causa espanto. Todos sabem que ele está, enquanto ser humano, demitido! O tal sacana é a elite pensando e se manifestando como elite. Assim o é também o careca imbecil das lojas Havan, a trupe demoníaca dos bilionários pastores evangélicos, entre tantos outros seres que exalam malignidade e exercem um poder político satânico sobre a nossa pobre população. Seres malvados a minimizar os perigos da pandemia e a fazer videozinhos profetizando uma cura que não existe.
Mas não estou aqui a escrever sobre estes excrementos e sim sobre a nossa saudosa classe média, ou seja, a filha pródiga daqueles que acima citei.
“Quarentenar” e poder trabalhar em casa é, realmente, um privilégio e tanto. A classe média crítica sabe disso e se mantém quieta ou, pelo menos, está a disseminar informações coerentes sobre o contágio.
Já a classe média Oslo, aquela que sai para passear com o cachorrinho e faz ioga com o gato, olha com compaixão a faxineira limpar e desinfetar o prédio. Como se estivéssemos todos no mesmo barco, os “hipongas” com sacolinhas de tecido, ao saírem para a feirinha orgânica, soltam um “ahhh, dona Gertrudes, obrigada por tudo! Não sei o que faríamos sem você.”
A classe média liberal está a curtir ao máximo o estado de exceção. O Instagram bomba em imagens, memes e citações sobre manter a tranquilidade, encontrar a paz e lavar as mãos corretamente, além de postar a imagem daquela garrafa vinho cara sob a legenda “Quarentena com ele!”
A classe média proto-fascista, vocês sabem, pensam que tudo isso é balela, uma gripezinha de bosta, que tem mesmo que morrer um monte de gente. Os que voltaram da Europa se gabam por ter trazido o vírus. O proto-fascista é o cidadão que dia 15 foi para as ruas feliz da vida.
Em suma…é legal ver as pessoas cozinharem em suas casas, curtirem seus bichinhos, fazerem ioga, Pilates, malharem, brincarem com seus filhos, “maratonarem” sem culpa e mais trocentas coisas que podemos fazer naquilo que chamamos “lar”.
O que me incomoda é saber que não são todos que possuem um. Me dói o morador de rua que pergunta por que todos estão a usar máscaras. Me dói ver nos condomínios entupidos de “quarentenões” a empregada ainda ter que trabalhar.
Eu também sou um privilegiado. Vivo com meus doze especiais a surtar pelos dias intermináveis e meus três filhos pequenos, mas estamos aqui, saudáveis a enfrentar a quarentena montando uma ferrovia…