Não tenho como negar minha predileção pelos dias frios.
A branquidão que cobre telhados, enfeita árvores e transforma o chão em um níveo tapete fofinho. O contraste com tons escuros, negros, lindos. A natureza recolhida e o sumiço das cores adentram, através dos sentidos, meu enfastiado corpo e ali sentam e conversam com a minha alma. Gosto de ver as fumacinhas de minha respiração e sentir os floquinhos gelados em minhas bochechas. Tudo fica vazio, os pássaros não cantam, as folhas não caem mais, as pessoas evitam o mundo externo, os bichos se escondem.
A tristeza me acompanha em muitas caminhadas. É, no entanto, uma tristeza primitiva, um sentimento que, em partes, pertence ao inverno. Sentir-se só, além do mais, triste é a única e verdadeira possibilidade, como disse Heidegger, de se autoconhecer.