Preconceito

Ultimamente tenho lido, ouvido e assistido muitas coisas sobre preconceito.
Uma avalanche de vídeos, fotos e artigos denunciam atos racistas. Eu creio, positivamente, que isso que está acontecendo é um sinal de amadurecimento de um povo que lentamente está despertando para algo maior.
É louco ver o agressor ou agressora, depois de uma ação preconceituosa, ser rechaçado ou rechaçada na mídia e, é claro, na vida real.
Lembro o caso da professora que fez a infeliz comparação entre aeroporto e rodoviária, ou seja, entre ricos e pobres, ou a torcedora do Grêmio que, num impulso colérico, gritou ao goleiro Aranha do Santos: Macaco! Macaco! São realmente atos grotescos e precisam ser denunciados. No caso das duas, é perceptível também que, ambas estão a amargar uma culpa praticamente insuportável.
Eu, no Brasil, não pensava muito sobre o tema. Era como se não tivesse nada a ver comigo. Estúpido? Ignorante? Talvez, mas eis que a vida me trouxe até a Alemanha e aqui, minha postura, meus abraços, meu sotaque, minha brasilidade, meu “ser diferente”, fez com que eu sentisse o que é ser discriminado.
Lembro que uma vez eu estava em um supermercado. Como por aqui eu ando muito de bicicleta, é comum eu carregar uma mochila nas costas. Simone estava comigo. Nós conversávamos meio em alemão, meio em português, afinal estávamos pouco mais de um mês no país e ainda não dominávamos completamente o idioma (Ainda não dominamos. Aprender alemão é coisa para duas ou mais vidas). Eis que perto da saída, uma das repositoras, ouve a nossa conversa, olha para a operadora de caixa e sussurra: Estrangeiros!
Bom, não deu outra. Chegamos com a água, o pão, o leite e um chocolate, pagamos e a mulher, é claro, pediu para ver o que eu tinha dentro da mochila. Antes de nós, um rapaz com uma bolsa gigante, dessas que se carrega laptops de dezessete polegadas, nem abordado foi. Eu tentei argumentar, mostrar quão errada ela estava, mas com a chegada do segurança, eu vi que aquela era uma causa perdida. Abri a mochila vazia, empacotei as compras e com Simone, seguimos tristes para casa.

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