O pessoal que lê o Vinhetas há algum tempo, já percebeu que minha vida divide-se em “Campus” de concentração, o trabalho no filosófico jardim e a convivência com minha excêntrica família. É um mundo pequeno, eu sei, mas diferente de tudo o que fiz até hoje, me completo nele.
Moro em uma vila onde a maioria absoluta da gente possui algum tipo de diagnóstico. Sempre repito essa frase, mas só isso já torna o lugar surreal. São dez casas. Cada casa possui cerca de doze pessoas que precisam de cuidado, três ou quatro ajudadores (meu caso) e uma pessoa encarregada de limpar. Vivemos como uma grande família que toma café da manhã, almoça e janta em torno de uma grande mesa.
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Dia de páscoa em família |
Aqui somos quase autossuficientes. Temos o jardim filosófico, onde trabalho eu, além de uma fazenda com galinhas e vacas, uma marcenaria, olaria, tecelagem. Tem um pessoal que cuida do parque, outro que faz a manutenção das casas. O lugar antigamente pertencia a um conde, que o utilizava durante a primavera e o verão para caçar patos.
No centro de tudo fica o anfiteatro. Nele, todo o fim de semana acontece algo, seja teatro, dança, ou concertos de musica clássica. Durante a noite é utilizado ou para terapia ou para as oficinas. Eu, por exemplo, participo do grupo de dança folclórica (quem diria).
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O teatro e uma das casas aqui da Vila |
Na Vila não há muros ou cercas, somente uma nada familiar natureza, ainda mais para alguém que cresceu no meio da Mata Atlântica. Por entre as árvores só o vazio, o passear dos “loucos”, o correr dos guaxinins, os veados e os terríveis cucos. Esses miseráveis são como nossas arapongas. Depois de alguns minutos a ouvir aquela repetição infernal e constante as cinco da manhã, você passa a odiá-los. É sorte aqui não ter pé de goiabeira…