OP – primeira parte

Desapareci, é certo. Desta vez, porém, tenho uma justificativa plausível. Fui submetido a uma operação de emergência e fiquei internado em algum minúsculo hospital nos confins da Alemanha.  A vida, esse acumulo de coisas, experiências, resultados, relatos, histórias, não me deixou passar essa.
Sexta-feira, dois de fevereiro, depois das dez, assisti a um filme, degustei uma cerveja, conversei initerruptamente com Simone até que lá pelas tantas uma dorzinha incômoda se fez sentir logo abaixo da última costela.

A princípio pensei tratar-se de um mal estar, uma má digestão. A dor foi aumentando, aumentando, ao passo que meia hora depois estava insuportável. Cutuquei Simone. A essas alturas, torvos pensamentos vinham mais do que iam. Corremos então para o médico aqui da comunidade. O seu parecer, infinito e desesperador, era de que poderia ser qualquer coisa: pedra nos rins, apendicite, nó nos intestinos (Meus Deus), vesícula, enfim, tudo.  

 A dor já havia se apoderado de todo meu corpo e encaminhava-se então para alma. Implorei uma injeção, uma facada, anestesia, qualquer coisa que me livrasse daquele mal e eu pudesse dizer amém.

Uma ineficaz agulhada de Buscopan na barriga me fez sentir possuído, a dor em nada retrocedeu muito pelo contrário. O médico simplesmente e literalmente lavou as mãos e mandou-me ao hospital, distante mais de trinta quilômetros.

Lá fora a neve e o frio de quase 20 graus abaixo de zero indicavam que seria uma longa viagem. Eu me contorcia, retorcia, expurgava meus demônios, pagava meus pecados.

Em meio às curvas pesadas daquela fatídica estrada, primeiro me veio à mente a alentadora imagem de minha mãe, uma assídua trabalhadora de um hospital em Blumenau, Santa Catarina. Por um segundo sorri aliviado. O problema é que aquela imagem, pouco a pouco, começou a falar um texto conhecido de minha infância…

Lembrei-me então de nossa cozinha e de minha progenitora, que eu tanto amo, contando ao meu pai a história de um homem de pouco mais de trinta anos que depois de sentir uma repentina dor, assim como eu, deu entrada na instituição e nunca mais saiu.

Naquela maldita hora, um misto de pânico, alucinações e histórias mal digeridas de minha meninice me fizeram chorar, achei que fosse morrer.