Estávamos todos jogados no sofá. O primeiro dia de festa havia passado. Como de praxe, abrimos os presentes, brincamos com os tais, comemos, bebemos, cantamos, dançamos. Já o segundo dia de festa, ou melhor, o primeiro de marasmo, se arrastava lânguido. Foi quando eu tive a brilhante ideia de deixar a Alemanha para conhecer Krusa na Dinamarca. A ideia era ficar frente a frente com um viking de verdade. Sabe aqueles que aparecem nas imagens do Google quando você digita a palavra “Viking”. Bom, o mundo é assim, cheio de estereótipos. Quando aqui cheguei pensei que todos alemães fossem gordinhos, simpáticos, vestissem calça de couro, suspensórios e tomassem cerveja em enormes canecos. Tola ilusão! Até hoje, quando falo que sou brasileiro, me pedem para eu fazer caipirinha e sambar (Por respeito a cultura e ao povo brasileiro nunca me meti a dançar um sambinha que fosse). Sendo assim, nada mais justo e lógico que acreditar que na Dinamarca todos fossem assim…
Bom, ajeita a família Buscapé no carro, roda quarenta minutos, fala “alô” para o pessoal da fronteira (nenhum Viking a vista). O tempo estava ótimo. O sol brilhava e os poucos graus acima de zero insinuavam uma ainda distante primavera. Deu até para tirar uma foto da placa da cidade…
Enquanto as crianças roncavam eu procurava os ditos dinamarqueses. Entrava em uma rua, saía por outra, subi uma ladeira, desci um descampado, costeei um lago bonito, adentrei em uma floresta, mas nada de outros seres vivos.
Foi então que uma igrejinha nórdica surgiu no horizonte. Se não se pode falar com um Viking, pensei comigo, quem sabe me deparo com um dos seus Deuses! Odin, Thor, Loki certamente habitariam aquele lugar. Eufórico, desci do carro e tirei umas fotos.
De repente o céu se fechou em nuvens negras. Sem mais nem menos começou a chover, as crianças se puseram a chorar e tudo foi um caos.De saco cheio, fiz a única coisa sensata a se fazer: regressar! Estávamos quase na fronteira quando vi um quiosque que vendia cachorro-quente, tipicamente dinamarquês, aberto… Em meio a berros e largas gotas de água adentrei no recinto. Nenhum viking, apenas uma senhorinha que, pelo menos me foi simpática. Após me vender a tal iguaria nórdica, me cobrou oito euros por algo que na Alemanha eu pagaria não mais do que a metade do preço. Antes de enfrentar o próximo absurdo, eu pedi o lanche para viagem. Quando voltei, as crianças, por sorte, haviam dormido novamente. Simone e eu comemos o tal cachorro-quente e retornamos, o mais rápido possível, para o nosso abençoado tédio.