O homem que sabia tadjique

Como sempre acontece aqui na comunidade, depois das férias de verão, aparece gente de vários cantos do mundo para o voluntariado de um ano.
Junto aos moradores da comunidade, a pluralidade cultural que se forma com os estrangeiros é uma coisa fantástica. Nessa nova jornada que se inicia, aportou em nossa vila: um brasileiro, uma colombiana, um guatemalense, um chileno, alguns russos, um japonês, um chinês, um senegalês, alguns húngaros e dois tadjiques, sendo um deles, o voluntário escolhido para me ajudar aqui em casa.
Dezenove anos. Busquei o sujeito semana passada na estação de trem. Fala pouco alemão, nada de inglês e, em espanhol, somente “muchas gracias”. Bom, o menino tem fluência em russo. O que, em nossa situação, pouco ajuda.
Estamos a nos comunicar por gestos, intuição, erros e acertos. Olhos esbugalhados, medo de encostar nas pessoas aqui de casa, pânico! Eu tento puxar conversa, pesquiso palavras em russo, fico a explicar-lhe que ele deveria saber, pelo menos superficialmente, aquilo que viria. Ele responde que sim. Aliás, a única coisa que ele faz em alemão é dizer que sim.
Ontem descobri que o menino é muçulmano e, logicamente, não come carne de porco. Foi a primeira vez que, enfático ao olhar algo, nos disse: Não, não! Em uma família como a nossa, inserida em uma cultura de salsichas, é de pressupor que a vida não será fácil.
Para tentar acalmar os ânimos e deixa-lo um pouco mais à vontade eu resolvi levar a nossa excêntrica família a um restaurante. Procurei algo parecido com a culinária do Tadjiquistão. Em minhas pesquisas descobri que prato nacional do país se chama Palav ou Plov, uma mistura de arroz e carne de ovelha, normalmente a ser comido com a mão. Obviamente, não encontramos nada parecido, sendo assim, acabamos no Flor de Lótus, um restaurante especializado em comida asiática. Creio que para ele foi um alívio. Depois de quatro pratos bem servidos o menino sorriu satisfeito, chegou a fazer brincadeiras e abraçar alguns dos nossos.

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