A noite é, em si, algo místico. A necessidade de uma luminosidade artificial para nos livrar da penumbra transfigura tudo. É a prova cabal da fraqueza de nossos sentidos. Não somos corujas e nem morcegos. A noite com suas luzes criadas, pálidas, quentes, amareladas, brancas, nos deixa em intimo contato com o sintético.
Claro que precisamos da luz natural tal como o lagarto que, através dela, mantém-se ativo. Temos a necessidade do dia para nossas funções vitais, mas é o ocultismo noturno que nos transforma em artistas. As ideias mais brilhantes, ignóbeis, estapafúrdias nos surgem quando, no céu, as estrelas estão a brilhar.
Ontem, depois de um curto passeio, tive uma idealização… aproveitar a magnitude da noite para, com ajuda de algumas lâmpadas incandescentes, arrumar e pintar o corredor do nosso porão.
São quase cinco e meia. Logo a manhã se fará linda e eu amargurarei as consequências de minha impensada força de vontade.