Na sala de espera

Na verdade estou em uma espécie de “pré” sala de espera do médico da comunidade. Lá fora chove e venta. O único lugar seco e aquecido é aqui, com um tapete estereotipado de gatinho. Na porta não tem o horário de atendimento, no entanto, teoricamente a secretária já devia estar aqui junto com alguns pacientes. É impensável a vida de um médico sem pacientes. É uma ligação etérea, tal como cuidar e ser cuidado.
Meu nariz coça. Devo estar com uma alergia. Daquelas que promovem bolinhas vermelhas e pustulentas no corpo. No início pensei que poderiam ser acnes. Fiquei internamente orgulhoso da possibilidade de uma puberdade tardia. Talvez um efeito, ainda não comprovado, da paternidade. Até pensei em comprar uma camiseta dos Ramones e deixar o cabelo crescer. Senti uma proliferação hormonal fora do comum durante o fim de semana. Voltei a tomar cerveja da garrafa e até dei uns arrotos, espantando-me com o meu desempenho.
Segunda-feira chegou. A alegria de reviver a adolescência foi suplantada pela transfiguração que os tais micro vulcões promoveram em meu rosto fazendo de cada encontro um martírio. Espanto, assombro, compaixão… 

– Que horror!!! O que fizeram contigo? 

– Meu Deus!!! O que é isso no teu rosto? 

– Errrg, o negócio está mesmo feio. 

– Que Deus te ajude. Boas melhoras. 

Depois de trinta e dois minutos de atraso a secretária chega. Eu ainda sou o único. Até ela se espanta com o fato de eu estar ali sozinho. Abre a porta e me convida para a sala de espera oficial. Aos poucos uma avalanche de gente gripada, quebrada, infectada chega para me fazer companhia.
Mais alguns minutos, uma ou outra anotação, uma cartilha sobre o reconhecimento precoce do câncer de próstata e o meu nome é entoado. Doutor Manfredo me olha, evita encostar, começa uma série de perguntas, fala consigo mesmo tentando solucionar o mistério do meu rosto, balança a cabeça negativamente, depois positivamente. Naquele conclave de dois, optamos por um antibiótico, para ajeitar as coisas no improviso, e, posteriormente um jejum de duas semanas para regular novamente o corpo.  O antibiótico eu começo a tomar amanhã, já o jejum está programado para o dia 11.11 (um pouco de misticismo é, quase sempre, charmoso).