Meus amados “torturadores” – Thommy e a Rádio Rússia Internacional

Sabe o tique? É muito provável que você também tenha um e, por questões sociológicas, insista em escondê-lo das outras pessoas. Bom, falo daquelas manias que nos assombram: A limpeza excessiva, a desorganização compulsiva, o verificar cinco vezes a porta para certificar-se de que ela está realmente trancada e milhões de outras coisas semelhantes.

Pois então, com minha excêntrica família, descobri que as pessoas que aqui vivem, em boa parte dos casos, possuem tiques gigantes, maiores do que a capacidade que elas têm de ocultá-los, mesmo que seja minimamente.

Além do mais, percebi que, o tique da outra pessoa assume em mim proporções absurdas. Até uma coisa pequena como, por exemplo, perguntar sempre se eu também dormi bem. Em suma, uma maniazinha insignificante para mim pode ser colossal para outrem.

Agora imagine você um ser que tem como praxe escutar rádio Rússia internacional, ouvir a previsão do tempo de Moscou, Bascortostão Samara, Udmúrtia e depois a mesa ficar repetindo isso ad infinitum. Pior, ele acredita que o tal prognóstico se realizará aqui e insiste que vai nevar, sendo que estamos tomando café com a porta aberta porque o termômetro marca 23 graus centígrados. Você argumenta, diz se tratar de um lugar distante coisa e tal, mas ele está obstinado e repete tudo novamente. Alguns se irritam, outros acreditam, há quem se desespera com a possível catástrofe. No meio do caos generalizado, entrega-se o pão, o queijo, passa-se a manteiga, a geleia, o mel. Eu tento, em vão, intermediar a situação que, por sorte, se ameniza na medida em que as bocas passam a mastigar o alimento.

Enfim, entre altos e baixos, sobrevivemos ao desjejum. Eu vou ao banheiro e volto para ver se todos estão arrumados. É preciso ajudar boa parte da família com o protetor solar, pois o sol já está alto e a promessa é de um dia daqueles. De repente me deparo com Thommy no corredor a me esperar. Ele, feliz como sempre, com uma espessa jaqueta de inverno, touca de lã, suando como um louco, contando os minutos para a “prometida” nevasca. Tem como não amar um ser assim?
Cuidar é ter em si a paciência necessária para aceitar o outro. Tirei uma foto, é claro.