No Richthof a sexta-feira se fez tempestuosa. Na pequena conferencia matinal eu me prontifiquei a fazer uma salada além de brusquetas para um grupo berlinense de Euritmia que irá se apresentar aqui no teatro da comunidade.
Depois da reunião eu caminhei até o escritório central, despachei documentos e fui em busca de alguns restos de tapeçaria para construir um espaço de brincar para o Gabriel. A manhã se arrastava feito um moleque lânguido. Eu cheguei em casa, recebi os recados, subi, dei um cheirinho no meu filho, brinquei um pouco com ele, desci, preparei um cappuccino, li a manchete do jornal. A foto de como ficou o escritório do Charlie Hebdo após o ataque terrorista não me deixou puto e sim triste.
Eu até ensaiei algum comentário com as moradoras aqui de casa sobre o assunto, mas nada do que eu dissesse teria efeito. Estávamos todos estupefatos e, de certa forma, um pouco intimidados, afinal, a violência, mesmo que à sombra dos grandes meios de comunicação, tem o poder de disseminar o pânico e a insegurança.
Durante a tarde, sem maiores explicações meteorológicas, as temperaturas subiram e uma tempestade se lançou sobre a floresta das árvores peladas. Sentado em frente à janela do meu quarto, aproveitei o resto do dia para usufruir ao máximo e sem culpa a minha melancolia.