Meio hippie, meio Waldorf

O título do post, como se pode perceber, foi influenciado pelo Sr. Antônio Prata, um ser meio intelectual, meio de esquerda e, no que diz respeito a arte de escrever, totalmente genial. Bom, nossos contextos são completamente diferentes. Eu não moro em cidade grande e já não frequento mais bares.
Acho que tudo começou, quando eu desliguei, para quase sempre, a televisão. O culpado? Um tal de professor Valdemar Setzer e suas críticas pertinentes. Depois disso veio a Filosofia da Liberdade, a Teosofia, a Ciência Oculta, o Curso de Pedagogia Curativa, a Agricultura Biodinâmica, a Arte da Educação I e II, o Nascimento de Cristo, as calças largas, o andar descalço, a barba mal feita e a vontade de ser vegetariano. É uma sensação, creio eu, parecida com alguém que está a se transformar em lobisomem. Você luta contra aquilo, mas os pelos, os dentes, as unhas, continuam a crescer involuntariamente. Além disso, uma outra vontade, maior do que a sua própria, te envolve de forma sobrenatural. A diferença é que no caso de um vir a ser meio hippie, meio Waldorf não existem vítimas nem perseguições. É o reinado da paz, do amor e do Calendário da Alma de Rudolf Steiner.
O ritual de chegada no primeiro ano de uma escola Waldorf implica em passar por um portal, normalmente adornado por flores. Um jovem do último ano segura a criança iniciante pela mão e a ajuda a atravessar o místico pórtico. Há muito tempo eu acompanhei, distintamente, o ingresso de minhas sobrinhas naquele que, para mim, não passava de um mundo esquisito. Era engraçado não sentir aquilo que os outros, aos meus olhos, em uma unanimidade fora do comum, sentiam. A beleza tênue e o silêncio que habitavam concomitantemente o pátio da escola era a única coisa que para mim era fato. O resto era historinha meio hippie, meio Waldorf dos pequenos burgueses que moravam nos cantos mais exóticos da Ilha da Magia.
Na medida em que minhas sobrinhas adentravam na esfera Waldorf e Andreia, minha cunhada, explicava apaixonadamente sobre os setênios e a ideia de desenvolvimento do ser humano, aquele universo paralelo, olhado por mim com desconfiança e muito preconceito, começava a gerar perguntas. Os questionamentos cresciam e, através de parcas leituras da obra de Steiner, apareciam algumas respostas. Um quebra-cabeças complexo e instigante dava sinais de que poderia, não sem esforço, ser completado.
Eis que houve um dia (sempre existe um dia. Em negrito e ainda por cima sublinhado) que encontrei Raul. Foi então que eu joguei fora a minha velha opinião formada sobre tudo e passei a dizer o oposto do que eu dissera antes.
Para o texto não ficar ainda mais chato, vou resumir o caso… A efetivação do meu ser meio hippie, meio Waldorf, aconteceu no dia vinte e três de março de 2013 quando, contradizendo todas as leis da física e, consequentemente, do meu próprio corpo físico, ingressei em um grupo amador de Euritmia.

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