Magnólia

Eu me encanto com o momento primeiro em que nos conscientizamos de certas coisas. O dia em que percebi com a força do meu ser a beleza de uma árvore foi no Richthof. Eu ultrapassara em quatro anos a barreira dos trinta. O mês de maio trazia consigo dias quentes e uma primavera repleta de borboletas. Eram quase cinco da tarde e eu havia saído de casa para buscar Thommy em sua oficina. De repente, ao cruzar a vila, cheguei na parte antiga da mesma. Três construções amarelas do século XVII abrigavam simpáticas famílias. Uma estradinha de chão batido formava uma rotatória e no centro daquele mundo estava ela. Eu, como sempre, admirava o céu. Entre pontinhas de azul anil e brancas nuvens, algumas flores me apareceram.

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Na medida em que eu descia a minha cabeça, minúsculas folhas verde-claro se misturavam com delicadas flores rosadas. Toda aquela atmosfera era adornada por um perfume doce, porém suave. Eu tinha a impressão de estar respirando micropartículas de baunilha em um contexto raro de extrema beleza.

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Senti-me atraído por aquela árvore. Como ser humano que sou, cheguei perto, muito perto.

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Extasiado por aquele esplendor em uma tarde tão comum não resisti e toquei a magnólia.

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Naquele instante único de minha vida eu percebi que era capaz amar uma árvore. Em pensamento eu voei até a jabuticabeira que ficava no galinheiro do opa e da oma e percebi que há muito tempo eu já amava as árvores, apenas não tinha percebido isso. Segundos depois eu cheguei, enquanto criança, as goiabeiras que enfeitavam o pasto da dona Linda Weege e me protegiam das vacas revoltadas. Lembrei-me também daqueles dois enormes guapês que davam as boas-vindas à nossa casa e abrigavam a alegre fauna de asas da rua Jorge Jung. 

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Foi através daquela magnólia que eu me reconectei em amor com o universo arbóreo.