Lanche coletivo (Peterson Quadros)

Tenho vinte e nove anos e virei professor de crianças. Foi uma coisa que aconteceu e que aos dezessete eu nem sonhava. Professor até que sim, mas não de ensino fundamental, precisamente quarta série ou quinto ano, de acordo com a nova nomenclatura.
Acho que as “nomenclaturas” atrapalham a educação. Elas mudam muito e velozmente. Um dia você emprega um termo que está na moda e na outra semana ele já caiu em desuso. Pior quando, dependendo a palavra, falar acaba se tornando uma subversão.
A melhor parte do dia ainda é o lanche coletivo. Isso quer dizer que alguém da turma traz comida para todo mundo. Suco natural, frutas, bolo, sanduíche ou tortas fazem parte do cardápio.
O pátio da escola é gigante e tem muitas árvores. Embaixo de algumas, ficam as mesas. Ali, em dias de sol, nos alimentamos. É um piquenique diário cheio de papos, risadas, novidades, histórias…
Depois de cortar as maçãs e ordenar o modo como o lanche será servido, sento à mesa com eles e deixo o tempo passar. Aprecio a infância que corre solta no escorregador ou nos balanços, às vezes no barco.