As férias de inverno chegaram e a euforia finalmente venceu o cansaço dos últimos dias de trabalho. Meus vizinhos entupiram seus carros com equipamentos de esqui e partiram para o sul. A busca por neve, antes abundante por aqui, tornou-se viral. Todos querem sentir os floquinhos, andar de trenó, fazer bonecos. Ainda é frio, como sempre há de ser na Europa, mas raros são os dias branquinhos. Vivemos, em verdade, as consequências de um mundo aquecido.
Eu, como o Raul cantou, resolvi andar na contramão. Peguei a minha pequena família Buscapé e vim para o norte. Faz alguns meses que aluguei uma casinha no litoral. Kappeln é uma cidadezinha de pouco mais de oito mil habitantes, situada no extremo norte da Alemanha, quase divisa com a Dinamarca. É um lugar de verão, tem um pequeno porto, algumas praias, um centrinho histórico, sorveterias que agora estão, logicamente, fechadas.
O comentário de alguém de que no inverno em Kappeln nada acontece foi o convite de que eu precisava para, de antemão, me encantar com o lugar.
Enfim, faz dois dias que estamos por aqui, curtindo o tédio, degustando o ócio.