Eles estão no meio de nós

Ao contrário do que acontece quando escolhemos um presidente, um governador, um senador ou mesmo um deputado federal ou estadual, que, muitas vezes, vivem a milhões de anos-luz da nossa realidade, o futuro prefeito e os futuros vereadores, não. Eles caminham nas mesmas calçadas que nós. Os encontramos no supermercado, no posto de gasolina, na lotérica, no restaurante e, quem sabe, até a passear no jardim zoológico com suas crianças.
Suas ações estão diretamente relacionadas ao nosso cotidiano, vejam bem, uma coisa é a duplicação da BR 116, outra coisa é ter a rua Hermann Weege interditada porque estão a fazer melhorias no calçamento.
O que eu quero dizer é que o prefeito e, consequentemente, os vereadores são gente nossa e, como sugere o título da Vinheta, estão no meio de nós. Nós os conhecemos. Talvez, antes do pandêmico Corona, até os abraçávamos na rua.
Fiz uma análise e constatei que dos cinco aspirantes a Senhor Feudal do município, quase todos fizeram parte da minha biografia.

Comecemos pelo Beto. Lá pelos anos noventa, Beto foi meu professor de Geografia no José Bonifácio.
Não sei avaliar o Beto e os conteúdos da matéria, mas em relação aos conteúdos do sujeito ele foi fundamental em minha Biografia. Não fosse ele, talvez, eu teria escolhido o caminho do antissemitismo, do racismo exacerbado, do “sulismo” hipócrita, do ódio pelo outro. Comigo, Beto foi socrático. Utilizou-se da maiêutica para fazer eu perceber o quão errado estava. Na época Beto não tinha um Blogue (ah, nada como um bom neologismo), mas já matava a Cobra. Só não mostrava o Pau e sim o Pioneer, aliás seu apelido era Beto Pioneer, pois segundo consta, gostava desses eletrônicos. Sujeito fantástico, com sotaque genuinamente pomerodense. Com seus louros cabelos espetados é um verdadeiro Apolo do Testo Rega.

Ércio Kriek. Quando eu era um molecão de kichute a jogar futebol no pasto da Linda Weege, não imaginava que ele entraria na política; pois então, entrou e fez bonito, tanto que se elegeu duas vezes e agora está a tentar o terceiro mandato. Eu, confesso, me identifico com ele, não pelo modo de fazer política, mas pela calvície que nos aflige. Ércio me lembra um alemão da Alemanha (pra utilizar um termo 100% pomerodense) chamado Otto von Bismark. A política, segundo ele, é a arte do possível! Acho bárbara tal definição e, convenhamos, Ércio, dentro do paradigma em que vive, o fez com destreza.

Pessoalmente, só não conheço o Jair, mas em contrapartida, se simpatia fosse critério para escolher um candidato, eu votaria no Marcos Dallmann. Estudamos juntos no JB e, durante a adolescência, fomos muito próximos. Com Marcos, descobri que existe uma Pomerode que transcende o centro. Ele morava em Pomerode Fundos, o lugar, talvez mais lindo e autêntico, que já tive a oportunidade de conhecer. Lembro-me da Igrejinha luterana não muito distante da sua casa, das conversas com o pai de Marcos, um educador apaixonado e um contador de histórias encantador.
Através de Marcos conheci os bailes do Segundo de Maio e ali naquele salão aprendi a dançar o clássico dois pra cá e dois pra lá.
Gosto de ver como ele faz política, suas perambulações por todos os cantos de nosso feudo, seu jeito comedido. Com sua sanfona, é o Sivuca de Pomerode. Quando vejo Jair e Marcos juntos, não sei porquê, eu me lembro dos Ursinhos Carinhosos, talvez pela simpatia ou pela barriga que eles ostentam.

Frank Volkmann já é bem mais velho do que eu, mas eu o via pela cidade. Empresário do setor de viação. Nosso contato foi indireto, afinal, conheci apenas seus “Goiabões”. O trajeto Pomerode – Blumenau era feito em fins de semana para ir ao Shopping Neumarkt. Aqueles ônibus eram o nosso acesso ao mundo real, pois como sabemos, Pomerode é um lugar de conto de fadas. Lembro-me da Oma ir comigo até o ponto e me alertar “Não deixe os maconhados colocarem maconha na tua bebida!”, assim, tendo a frase da Oma na cabeça, eu partia para aventura na grande cidade de “Plumenau” Nos Goiabões não existiam catracas e os cobradores vinham até a gente. Calça verde, camisa amarela e o bloquinho com direito a papel carbono e tudo.
Outro dia sonhei que Frank tinha ganho a eleição e um daqueles sujeitos estava a bater à minha porta com seu uniforme tradicional e o bloquinho a me cobrar o IPTU.

Por fim, Rafael Ramthun, nosso Ayrton Senna, sem boné e de camisa Lacoste. Temos praticamente a mesma idade, porém, nunca conversamos. Em uma sociedade de castas como a nossa, ele era um Brâmane enquanto nós éramos Sudras. Em termos pomerodenses da década de noventa isso significava: ele aprendeu a nadar no Clube Pomerode enquanto nós, moleques de conga, tivemos nossas (sobre)vivências náuticas no Salto.
Rafael, pelos recortes de Facebook, virou um paizão orgulhoso, representante da tradicional família brasileira e defensor voraz da moral e dos bons costumes.
Seu jeitão político ufanista, em minha interpretação, “vamos tacar fogo nessa Babilônia e começar tudo de novo”, tem seu charme. Tal estilo meritocrata me faz pensar que, se eleito for, deixaremos de ser os Flintstones e vamos nos transformar nos Jetsons.

De qualquer forma, como tentei dizer na postagem anterior, todos eles são pessoas incríveis e tem uma boa intenção com relação a Pomerode. Compete a nós estudar a proposta de cada um, escolher bem e esperar que o novo Senhor Feudal cuide e faça o nosso pequeno pedaço de paraíso florescer ainda mais.