Já pararam vocês para pensar o quanto adoramos controlar o outro? Aqui com minha excêntrica família, dentro da pequena e louca (no bom sentido) comunidade, o ciclo se repete… Teodoro é o nosso controlador de plantão. O primeiro a acordar e o último a dormir. Se me atraso dois minutos para o café da manhã, o gajo surta, se eu demoro a colocar manteiga sobre a mesa, o bicho surta, se eu não levo Thommy imediatamente após o desjejum ao banheiro, o homem surta. Teodoro não é um mau sujeito, ele apenas quer como todos nós, controlar o incontrolável. Não percebeu ainda, como nós, que a vida é imprevista e o resto é ilusão.
O controle também confere um imenso poder a quem pensa que o tem. Em nossa mesa de dezoito comensais, aquele que “sabe” quem é o convidado especial do jantar é bajulado, cortejado, ovacionado. Teodoro misteriosamente sempre o sabe e brinca com isso. Eu sei quem vem hoje para o jantar, vocês eu acho que não sabem, diz ele. Os dezessete curiosos tentam insistentemente adivinhar, mas após inúmeras e fracassadas tentativas, quando se dão por vencidos, passam a implorar pela resposta. Teodoro ri, faz piada, diz que eles não precisam saber e que o legal mesmo é a surpresa. Nosso amigo parece conhecer o sublime sabor do controle da informação…
O que talvez ele não saiba é que o ilusório poder pressupõe responsabilidade, cobrança, inquirição.
O que talvez ele não saiba é que o ilusório poder pressupõe responsabilidade, cobrança, inquirição.
Outro dia não veio o almejado hóspede que Teodoro havia prenunciado e com quase vinte dedos em riste a cobrar-lhe uma resposta, acabou-se a graça. Acuado o pobre homem começou a chorar. Tive que intervir. Eu precisava ajudá-lo de alguma forma, dizer para os outros que tal massacre levaria nosso amigo a depressão, que isso não se faz… Enfim, no meio do inflamado discurso, a epifania, eu próprio assumira o fictício controle da situação. Como resultado, num primeiro momento, cabeças baixas e seres envergonhados desculpavam-se uns aos outros, depois vieram os abraços e em uma inusitada conclusão… gargalhadas mil, principalmente por parte de Teodoro. É fato que não entendi muito bem o desfecho, mas pelo menos naquele distinto ato acabamos, em comunhão, por controlar as dores uns dos outros.