Checkpoint Charlie – O desfecho

Janeiro com gelo por todos os lados, quase uma semana de neve, o país um verdadeiro caos e meu visto quase vencendo. A maldita estampa da DDR parecia tremeluzir, enquanto a única solução possível seria encontrar alguém disposto a me levar para Frankfurt em tempo recorde, pegar um novo passaporte e voltar ao escritório de estrangeiros a tempo de obter a minha tão sonhada permanência, caso contrário teria três dias para comprar uma passagem aérea por um preço exorbitante e infelizmente deixar a terra de Nietzsche
Volker, meu estimado professor de Antroposofia, ainda de férias, se compadeceu com a história, pegou o carro da mulher e partimos em meio a nevasca.
Depois de duas horas e meia de engarrafamentos, caminhões tombados, chegamos enfim ao Consulado Brasileiro. Eu me senti em casa, ou melhor, em uma típica repartição pública do nosso país. Alguns funcionários, em círculo, riam alto, tomavam cafezinho, contavam histórias de família, comiam pizza e ignoravam os gatos-pingados que, assim como eu, permaneciam sentados nos bancos de espera, com demasiada pressa.
Depois de muito tempo a atendente, brasileiríssima por sinal, foi logo dizendo que novo passaporte é caro. Depois perguntou: – o senhor tem aí consigo o certificado de reservista, o título de eleitor e o comprovante que votou nas duas últimas eleições?
Bom, cai em prantos, veio o supervisor, provavelmente baiano, sorriu e disse:
– Vamos ajudar o rapaz, quem sabe se cancelarmos as duas páginas. Me passa o carimbo, por favor.
O homem carimbou e o passaporte passou. A prova está aí embaixo com o chapéu cossaco…