As obras de cada um

Os elementos estão todos espalhados por aí, pendurados em árvores, voando como pássaros, escondidos embaixo da terra, mergulhados no oceano ou flutuando em cima dele. Talvez permanecessem durante a eternidade num determinado local ou seriam deslocados por outra força de igual natureza, mas o fato é que eles permaneceriam sendo apenas elementos soltos na imensidão que é esse planeta.
Então chegamos nós. Eu, você, que também somos feitos dessas mesmas coisas, só que por alguma razão que até hoje não sabemos explicar, saímos diferentes. É como exclamar! Essa capacidade que temos e, que é muito mais do que gritar, pois o fazemos somente quando estamos estupefatos diante de algo. Cada um a sua maneira. Com os braços erguidos, testa franzida, olhos fechados, mãos juntas, dedos em riste, lágrimas, tudo humano, demasiadamente humano.

Além disso, temos também a incrível capacidade não só de vociferar, por exemplo, “que belo!”, mas também de criar a beleza.

Somos essencialmente seres criadores. Cada povo construiu a sua maneira aquilo que achava, de acordo com suas crenças, magnífico. Os egípcios ergueram as pirâmides, os gregos o Partenon, os brasileiros o Maracanã. O mesmo acontece com cada um. Não passamos por aqui sem conceber. A concepção é intrínseca a vida humana.

Hoje, vivendo intensamente os meus trinta anos, percebo que arquitetei e ergui com minhas mãos coisas das quais posso me orgulhar.

A primeira delas foi o banco de pedra. Durou o tempo de dois entardeceres. Apenas eu, luvas, uma pá e o companheirismo de Simone. Suei para arrastar aqueles blocos até o lugar onde seria edificado, depois fiz o fundamento e sobrepus as pedras. Hoje, em dias de primavera ou no calor do verão me sento nele para ler ou pensar sobre a vida.

A minha segunda grande obra foi um monte de composto. Aprendi a técnica com um usbequistanês chamado Ibrohim que foi voluntário por um ano e depois voltou ao seu país. O modo como se devem intercalar as folhas, o estrume de cavalo e o calcário. A base larga e as bordas prensadas com os próprios pés. Ano que vem espalharemos o adubo no campo e, parte de mim estará lá.

Por último, as cercas onde esse ano crescerão os feijões. Um conjunto de três. Cada uma com aproximadamente de 30 metros, isso significa que estou quase chegando aos cem metros de experiência. Dois dias e um vento que faria muitos bravos desistirem. Primeiro os furos na terra, então os esteios, depois o ato de esticar a tela e pregá-la. Foi difícil, complicado, doloroso, mas está feito.

Assim, aos poucos dentro da minha “minusculosidade” feliz, estou criando o meu jardim. E você? A quantas andam as suas obras?