Na medida em que adentro na esfera da Pedagogia para o cuidado e para a saúde, percebo o quanto sou ingênuo.
Recebi a grade curricular e, ao olhar aqueles nomes nada convencionais, cheguei ao êxtase, imaginando o quão profundo seria o bendito curso. Tive a certeza que dali a algumas horas estaríamos a levantar problemas, debateríamos até a madrugada, ressuscitaríamos filósofos, discursos inflamados seriam proferidos e chegaríamos juntos ao cerne das questões contemporâneas sobre pessoas portadoras de necessidades especiais.
A metamorfose das plantas (Methamorfose der Pflanze), certamente, em minha imaginação, um misto de Kafka com um quê de Castanheda, ervas medicinais ou coisa parecida. “Esses alemães sabem fazer as coisas”, pensei comigo, louco para ouvir e romper com uma infinidade de paradigmas.
Contei os segundos até a chegada da professora, que veio munida de lápis, borrachas, pranchetas e folhas. Aqui, vamos apenas observar e desenhar árvores (inclusive a caquética bananeira brasileira com cidadania alemã de algumas postagens atrás).
O que teríamos em “Ações da Economia doméstica” (Hauswirtschaftliches Handeln)? Adam Smith, Alfred Marshall, David Ricardo, bolsa de valores de Frankfurt? Passamos longe, nos mostraram um fogão, panelas e repolho (pelo menos aprendi a preparar um belo chucrute Demeter).
Eu poderia estar desanimado, mas dentro de mim, aflorou a certeza de que seria salvo pela Fenomenologia do toque (Phänomenologie d. Berührung). É impossível advir algo simples de um nome assim. Certamente correlacionaríamos o tema com Hegel. Quem sabe uma segunda e secreta parte da famosa fenomenologia do espírito? Fiquei eufórico. Sentei na primeira fila… Veio a professora, sem livros, canetas ou teses, mas com toalhas, travesseiros e óleos. Nos entreolhamos. Ela sorridente, eu desesperado. Depois de segundos em silêncio, a mulher, afogou o meu desejo filosófico e sentenciou: “Queridos, guardem os cadernos e peguem os colchões na sala ao lado, pois nesta disciplina nós vamos aprender a massagem rítmica”.