A figura chegou a nossa excêntrica família com incautas perguntas e um diagnóstico nas mãos. Através dela descobri que diagnóstico assemelha-se a um passaporte. Lá consta de onde você vem ou o que você tem, mas não diz nada sobre quem você é. Já no primeiro dia indagou se eu também havia tido uma boa noite de sono. Respondi que sim e assim sucessivamente até a insólita madrugada em que uma inexplicável insônia me pegou de jeito. Seis e cinquenta da matina. Eu estava na cozinha a preparar o café da manhã para meus doze torturadores de plantão, com olheiras profundas, cabelo desarrumado e totalmente atrasado, pois ainda precisava tirar o Thommy da cama e lá pelas sete encomendar as calças plásticas do senhor Raio de Sol (outra tradução literal). Ela chegou de mansinho e deu o bote:
– Olá, você também dormiu bem?
Eu, inocentemente, balancei a cabeça de forma negativa. Foi como apertar o botão vermelho de um lança-míssil. Percebi que a senhora Boa, de boa senhora não tinha nada. A mulher simplesmente surtou. Levou as mãos à cabeça e repetiu dezena de vezes “não pode ser”. Depois, em prantos se pôs a gritar “Você teve uma boa noite de sono! É claro que você teve! Para de dizer que não!“. Por fim saiu correndo e se trancou no quarto.
Voltou uma hora depois com a cara inchada, me olhou, respirou fundo, pediu desculpas e desejou-me um belo dia no horto filosófico. Ainda em estado de choque, agradeci e me mandei para o “Campus” de concentração. Existem pessoas que não gostam de ser contrariadas.