A nova moradora

A vida se mostra agradável. Um calorzinho dá boas vindas a Primavera que já não tarda a aparecer. Enquanto isso no sul do mundo os quase quarenta graus diários e a falta de chuva, faz com que as pessoas que não estão à beira do mar, sofram seus bocados. Cada telefonema para minha mãe é um lamento sobre o suposto aquecimento global. Depois das reclamações habituais, a cobrança pela não postagem de novos vídeos do Gabriel e, enfim, a pergunta sobre a minha excêntrica família.
Faz duas semanas que recebemos uma nova moradora aqui em casa. Estou sempre a contar para a mãe os detalhes da nova experiência. Até mesmo porque quando chega alguém novo a casa se enche de descobertas. Novas relações sociais são estabelecidas, paradigmas caem, emoções vêm à tona. Dentro do novo contexto, mudamos todos.
Quando um novo membro nos chega evitamos ler os diagnósticos. Claro que nos é importante saber quais medicamentos a pessoa precisa, se ela é agressiva ou tem tendência suicida. Algumas informações são essenciais. O problema, muitas vezes, é o preconceito gerado por um diagnóstico mal interpretado. Aqui em casa moram autistas que adoram abraçar e com vida social agitada. Em contra partida existem pessoas com síndrome de Down introspectivas e que resistem ao toque. Se nos apegamos muito as características gerais da “doença” estamos sujeitos a erros irreversíveis.
Mas vamos a nossa Bella…
Sábado, ela queria muito fazer as compras sozinha. Precisava de alguns novelos de lã, café instantâneo, chocolate e biscoitos.
Bom, para saber se ela tinha noção de valores, apresentei dois probleminhas simples…Trouxe uma barra de chocolate, um frasco de xampu e perguntei… A barra custa dois euros e o xampu cinco. Quanto você terá que pagar? Os dedos começaram a se mexer, ela espremeu os olhos e me disse certeira: seis euros!
O segundo probleminha… O total da minha compra foi de dezesseis euros. Eu dei uma nota de vinte. Quanto eu recebo de troco?
Novamente dedos, testas franzidas, língua de fora e uma mão cheia de certeza: Cinco euros, lógico!
No mundo dos negócios cotidianos, a nossa Bella é só lucro.

lucro