A morte de Birte

Ela chega, quase sempre, sem muito alarde, conversa conosco baixinho em tom persuasivo. Quando menos percebemos aceitamos o seu convite e embarcamos em uma viagem sem volta. Birte estava bem. Na noite anterior se reuniu com algumas amigas. Assistiram um filme, comeram salgadinhos de pacote, tomaram Coca-Cola. Na tecelagem chegou sorridente a fazer os mesmos chistes de sempre. Trabalhou. Em conversas paralelas fez combinados e planos para o Carnaval. De repente tossiu. Levou o braço direito à boca. Quando viu a manga do pulôver branco, uma pequenina mancha de sangue adornava a costura. Birte foi levada ao médico da comunidade que, após um rápido exame, a encaminhou para o hospital. Ela foi sedada, entrou em coma, lutou por dois dias e, no alvorecer do terceiro, seguiu o caminho mágico.
Amanhã, enquanto comunidade, nós nos despediremos dela.
Ficam as lembranças. Eu, por exemplo, uma vez por mês a levava para Fulda, uma cidade barroca aqui perto. Birte comprava lã colorida de alpaca para tricotar meias, depois nós tomávamos café da manhã juntos.