A lembrança

Todo dia tem roda de adultos por aqui. Nós nos ocupamos basicamente com questões ontológicas, metafísicas, lógicas, anímicas. Cremos que o filosofar sobre as coisas do mundo é base para a resolução dos problemas práticos.
Hoje divagamos e discutimos sobre o lembrar.
Quando me lembro do azul do mar é porque aquilo, de alguma forma, mexeu comigo. Para que isso aconteça é necessário que o meu ser anímico (alma) esteja, na situação, desperto.
Lembrança é aquilo que está estampado em minha alma e, é ela que tem a capacidade de trazer à tona novamente o acontecido. Eu posso, de acordo com meu querer, em situações não patológicas, acionar sempre a minha memória e lembrar-me, por exemplo, do azul do mar.
No caso de um trauma a situação se inverte, pois, mesmo não querendo sou obrigado a viver com lembrança do acontecido.
Percebemos isso empiricamente com nossos aldeões. Muitos daqueles que aqui vivem não conseguem ficar em silêncio. Falam tudo que aparece na cabeça, sem ponto nem vírgula. Deste seleto grupo, aqueles que sofreram um trauma, tendem a repetir em voz alta infinitamente a situação. Uma das moradoras aqui de casa chegou a repetir, em menos de oito horas, 465 vezes o fato de seu pai não ter ido vê-la quando esteve, a trabalho, aqui na comunidade.
Tem uma série de palestras de Rudolf Steiner “As cartas de Michael” – Die Sendung Michaels GA 194 que esmiúça bem o tema.

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