A floresta das árvores com narizes

Eu aproveito muitas das minhas tardes para passear na floresta. Tenho gosto em descobrir caminhos novos, perder-me no meio das árvores, perceber o paulatino despertar dos meus sentidos. As cores e formas de tudo que me adentra, o ruído harmônico de um mundo ao qual pertenço, mas que insisto em me afastar; a arte de me equilibrar em galhos, o calor do meu corpo, a transpiração, as centenas de odores que me invadem. Outrora também a solidão e o silêncio. Hoje ecoa pela montanha a voz do meu filho Gabriel. Companheiro inseparável das minhas aventuras.
Estamos sempre a procurar javalis, raposas, guaxinins, esquilos, porcos-espinhos e tantos outros bichos. Com ele redescobri a importância e as infinitas utilidades dos gravetos, a beleza das pedras em queda livre e o seu impacto metamórfico no rio Fulda.
No último domingo, ao caminhar por um bosque de contos de fadas, um tronco de árvore cortado e caído tornou-se, para ele, a proa de um navio.

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No meio da brincadeira, ao “pular no mar”, escapou-me um “pum”. Gabriel me olhou e tapou, com seus dedinhos, as narinas. Depois apontou-me o bosque e disse: “as árvores não têm mão para fechar os narizes”. Achei engraçado e respondi que a diferença é que as árvores não têm nariz. Ele insistiu… eu insisti… depois continuamos a brincar e acabamos por esquecer o assunto.  No caminhar de volta para casa, por alguns instantes tive de volta os meus olhos de menino, enxerguei o que me estava oculto e percebi o que ele quis dizer….

pino

nariz redondo

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nariz pequeno

nariz gordo

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