A dor de matemática é uma coisa terrível que se manifesta, para alguns, durante toda a vida escolar. Ela quase sempre começa a atacar depois dos sete anos e não pára mais.
Você percebe e acompanha o movimento da criança. Ela está feliz e sorridente, Olha para o lado, para cima, para baixo, solta um grito chato, cutuca o braço do amigo, enfia a mão no estojo para pegar uma borracha, risca a mesa, apaga, risca novamente, balança a cadeira para frente e para trás, ri copiosamente, conversa deliberadamente e bate continuamente com a régua ou com o lápis no tampo da carteira. Todo mundo se irrita, mas ninguém fala nada. Aos poucos ele acaba ficando sozinho, com seus próprios ruídos. Todos estão concentrados fazendo alguma coisa que ele, até então, não sabe o que é. Seus amigos estão trabalhando, produzindo, pensando.
O menino fica intrigado. Há um papel caído que ele, sem querer, está pisando em cima. Ao juntar a folha, observa alguns números. Olha para o lado e vê que sua vizinha já está na quinta questão. Agora parece assustado e nem um pouco feliz. De repente a professora, com a maior docilidade possível, sentencia:
– Estou recolhendo a atividade.
Nesse exato momento uma dor aguda dilacera seu estômago. O moleque tenta gritar, como estava fazendo há pouco, mas já não consegue. A dor súbita tirou-lhe a voz. Ele tenta levantar, mas está tonto, escuta com dificuldade espreme os olhos e quase não enxerga. Ele tem certeza que é o fim, que está acabado. Esconde a cabeça com o braço e se joga na carteira. A professora pára diante dele e pede a atividade. O garoto levanta o braço e o deixa cair em seguida, diz que precisa de ajuda e ameaça vomitar. Desesperada, sentindo-se culpada, o ajuda a levantar e pede para entregar a atividade outra hora. Quando isso acontece, bate o sinal para hora do lanche. O rapaz dá um salto, larga a mão dela e sai correndo feliz da vida, sem dor, enjôo ou tonturas, porém, antes de sumir na multidão, olha para trás e agradece:
– Valeu “prof”! Amanhã entrego a atividade.