A companheira Cinthia e o monofônico Motorola da Alegria

A companheira Cinthia

Uma verdadeira revolução não se faz apenas com lutas e ambições, mas fundamentalmente com alegria e comunicação. Em nossa trupe ela sempre foi a comandante dos sorrisos loucos, dos papos, das piadas e tiradas mais insanas possíveis. Era tão comunicativa que dialogava em português com os alemães e eles, pasmem, compreendiam. Uma coisa completamente “sobre” o natural, um talento inato que sempre me encantou.

Karlsruhe

Era uma daquelas gostosas noites de verão, estávamos em Karlsruhe, cidade onde fica situada a suprema corte alemã. Ao lado da prosaica porém importante construção, um palácio transformado em museu e um jardim enorme com aqueles gramados extensos onde, nos finais de tarde, tribos se encontravam.

Como era de se esperar, tudo muito pacífico e harmonioso. Cada grupelho, em roda, conversava baixinho, sem movimento, música alta, risadas exageradas ou coisa desse tipo.
Cinthia e Sopa

Chegou Cinthia. Num primeiro momento indiginou-se com o tédio. Olhou para o lado e puxou Sopa, um amigo togolês chegado em eletrônicos, que de lampejo sacou do bolso um arcaico, gigantesco e monofônico Motorola.

Silêncio! Tudo, inclusive os carros, o metrô, a corte, as pessoas, pararam por minutos e todos os olhos se voltaram aqueles dois.
Sopa deu a entender que faria uma ligação com o pré-histórico instrumento, apertou um botão. Repentinamente, começou uma daquelas terríveis e enfadonhas músicas Midi.
Ao mesmo tempo Cinthia iniciou uma coreografia que, em efeito dominó, arrebatou todos os alemães. Sem perceber, os batatas saíram de seus mundinhos e acompanharam minha amiga pela noite adentro, festejando e pulando num movimento digno de trio elétrico. Assim a nossa histórica e agora também dançante revolução ganhou força, cresceu e se projetou para além dos nossos limites.
Cinthia e o casal revolucionário