Hoje aproveitei o dia em Kappeln para cortar os poucos fios de cabelo que me restam. Diante da cabeleireira a pergunta que me é comum agora: “Como o senhor vai querer? É para passar a máquina?”
Eu sei que dia mais, dia menos eu terei que aceitar a calvície, mas ainda tenho uma penugem sobre a cabeça e, por incrível que pareça, eu me orgulho dela.
“Não, não quero passar a máquina! Basta cortar com a tesoura. O mínimo possível, por favor.” respondi já não tão simpático como na chegada.
Enquanto a mulher puxava, cutucava, borrifava água, eu, de olhos fechados pensava como o salão de beleza, ou melhor, o centro de estética capilar, tornou-se o epicentro da vaidade humana em nossa líquida modernidade.
Tudo é demasiadamente visual e deveras efêmero também. Se eu acordo entediado, chateado, precisando de atenção, basta ir ao cabeleireiro e mudar, por exemplo, a cor dos meus cabelos. Por algumas frações de segundo, na interação com o meu grupo social, somarei, pelo menos por um dia, elogios. Logicamente modificarei a minha foto de perfil no Facebook e passarei as próximas horas a receber centenas de curtidas e dezenas de mensagens. Isso ocupará a minha alma e, quem sabe, me fará um pouquinho mais feliz.
Bom, quando eu estava a adentrar nas profundezas de minha recém-formulada pseudoteoria, acabou-se o corte. Em princípio eu fiquei frustrado, mas pelo tamanho da minha crina três minutos de trabalho são mais do que o suficiente.
Tendi a ser irônico e agradeci a rapidez. A moça, um tanto mais sarcástica do que eurespondeu: “Imagina, não havia praticamente o que fazer!”

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