As manhãs geladas de um finzinho de outono me convidam a deixar o aconchego da casa Jawlensky. Gosto de pegar o carrinho de bebê e, com Helena, partir para o meio da Floresta. É tudo tão vazio nesta época do ano. Passamos intermináveis minutos subindo o morro que nos esconde. Tem dias que me perco nos caminhos infinitos deste místico lugar. A pequena dorme serena. Eu transpiro. Meus pés, aos poucos, congelam, o nariz escorre, as bochechas ficam vermelhas. Eu aperto o passo e me deixo envolver pela névoa suave. Sempre tenho a esperança e o medo de encontrar um porco do mato ou um cervo pomposo. Entre as árvores, as folhas caídas e um pouco de gelo eu paro para respirar fundo e olhar para cima. O vento não sopra com intensidade, mas é cortante e faz os olhos lacrimejarem. Quando as pálpebras se fecham uma leve ardência me coloca muito perto daquilo que entendo por natureza. Experimentar a solidão é, por vezes, chegar muito perto da felicidade. Na luta contra e qualquer pensamento que possa atrapalhar o meu “estar-aí” fico quase duas horas absorto. Quando resolvo olhar o relógio me dou conta que o tempo correu apressado. É hora de regressar. Helena se espreguiça. Estamos agora em movimento. Sei que em algum momento infeliz a floresta acaba, um mundo de telhados se abre e, embaixo deles, a vida continua.

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