Vocês lembram do bom e velho Freud e seu princípio da realidade versus o princípio do prazer?
Eis aqui um resumo do negócio. Mas vamos lá, no caso do romantismo e da realidade acontece algo parecido. Na aurora dos meus trinta anos eu decidi largar o sedentarismo e mudar de vida. Quem acompanha o Blog sabe disso. Eu estava engordando a passos largos. Comia muito e em horários inadequados. Gostava de pedir pizza ou hambúrgueres em plena madrugada. Tudo acompanhado de muitas cervejas. Fumava como um louco. Nada de cigarros. Nunca gostei de cigarro. Eu tinha um cachimbo que ganhei de presente de aniversário. Eu apreciava um bom fumo sabor cereja ou chocolate.
Eu caía na cama lá pelas cinco da manhã, acordava as onze, tomava um banho e dirigia até a escola onde eu lecionava. Me sentia um paquiderme.
Foi então que eu tive a infeliz ideia de procurar uma academia. Aquela gente toda encapsulada em fones de ouvido, correndo em esteiras, pedalando bicicletas que não saem do lugar, puxando pesos coloridos importados da China. A busca pelo corpo estereotipado em um lugar da moda me era artificial demais.
Uma manhã, depois da ideia, me veio a vontade. Eu precisava escapar, fugir, correr. Obcecado, ainda com o copo de cerveja sobre a mesa, o cachimbo na mão esquerda, o mouse na outra e os olhos vidrados na tela do computador, passei a procurar um lugar para recomeçar.
Imagens românticas de fazendas com vaquinhas ao fundo, um mar de verde, duas ou três construções em estilo enxaimel, uma chaminé. Sim! Era isso que eu queria para mim. Trabalhar em uma fazenda. Ser um hortifrutigranjeiro, respirar ar puro, jogar milho para as galinhas, em terdes douradas, com um chapéu de palha, sentar para descansar embaixo de um carvalho gigante.
Como um presente, depois de alguns meses, eu estava com meus pés em um lugar idêntico aquele idealizado por mim. Eu, finalmente, tornara-me um homem simples do campo. De jardineira, sentado na relva, tomando um café ao sol, eu me sentia um poeta em meio a uma fonte infinita de inspiração.
Tudo perfeito, maravilhoso, romântico, até o dia que a realidade bateu a minha porta. Pouco antes do inverno, colocaram-me uma pá nas mãos e conduziram-me ao estábulo onde pude exercitar meus músculos em meio ao excremento das vacas.