Aniversário

Nunca gostei muito dessa história de aniversário. Creio que herdei tal sentimento do meu pai que tem por hábito se esconder quando o assunto é ficar mais velho. O homem chega a pedir folga no trabalho, desliga o celular e tira o telefone do gancho.
Comigo não é muito diferente. No entanto eu me obrigo a encarar o mundo de frente, mas sem respostas ou agradecimentos generalizados em redes sociais. Sei que é tolo e depois eu me sinto culpado por não ter dito obrigado, mas a vida é cheia de contraditórios. Voltando ao “anos” em si. Dias antes do evento eu passo a sentir uma pontinha de tristeza, uma irritação pouco convencional com relação ao universo e as pessoas. Tudo me ofende, me agride, me dói. Ao abrir algum portal sensacionalista na internet me reporto as páginas policiais e depois de duas ou três notícias tenho a impressão que a maldade humana chegou ao seu apogeu, no sentido da sofisticação, é claro. Lembro sempre de uma coordenadora que vivia a repetir… “A barbárie humana, meus queridos, sempre existiu e vai continuar da mesma forma hoje e sempre”.
Na semana que antecede o “parabéns a você” me obrigo a fazer também uma retrospectiva crítica sobre o meu envelhecer. Ecoam, em minhas supérfluas meditações, perguntas do tipo…
Que forças motivaram minhas ações? O que eu li esse tempo todo? Será que consumi menos do que eu necessitava? Contribuí positivamente para com o mundo? Evoluí? O saldo é sempre o mesmo… Algum progresso mínimo, grandes estagnações e um número infinito de retrocessos, tais como ler páginas policiais e contemplar a tabela do Campeonato Brasileiro.
No entanto, o meu trigésimo quarto ano foi, por um único motivo, o mais intenso que já vivi. Ser escolhido para ser pai fez com que muitos dos meus paradigmas mudassem pra valer. Na verdade tudo ainda está mudando. Quando chego exausto, ferrado e deprimido, basta olhar aquele ser dócil engatinhando e sorrindo para que minha alma ganhe um novo impulso.
Outra coisa positiva que descobri em relação a aniversários é o repentino senso de alteridade dos outros para com você. Naquele dia único as pessoas evitam chamar-te de burro, idiota ou imbecil. Elas, de repente, se colocam no seu lugar. É como se você estivesse protegido por uma abóbada celestial e, em cada encontro, o outro ao lhe ver, se deixa levar por um complexo sentimento de compaixão. Isso faz com que o aniversário se torne a única data do ano em que você pode ser você mesmo, sem culpa.

haroldo aniversario