Os detalhes de Téo

Com minha família aprendi que a dor do outro nunca será a minha dor. Eu posso, no entanto, me aproximar dela e, com esforço e perseverança, tentar compreendê-la no intuito de minimizá-la.
Teodoro é um dos moradores aqui da casa Jawlensky. Dizem que ele é autista, para mim, ele é apenas o Téo. Cultivamos uma amizade de dez anos já.
Lembro que foi ele que me conduziu até a lavoura. Ali, no cumprir das horas, juntos a colher batatas, beterrabas, cenouras, trabalhamos até a exaustão.Com ele aprendi, além de sentir orgulho de comer os legumes e as verduras que nós juntos plantamos, a estar atento aos detalhes mais infinitesimais.
Para Téo tudo tem uma ordem própria e o rompimento de tal estrutura lhe gera uma dor incontrolável. Muitas vezes esmurra paredes, bate no seu próprio rosto, chora, berra.
Eu tento, em minhas próprias limitações, encaixar, assegurar e adaptar o nosso pequeno mundo a sua própria lógica.
Antes de sentarmos à mesa eu confiro minuciosamente se tudo está de acordo com o padrão estabelecido por ele: Guardanapo, prato, tigela para o iogurte, colher de chá, caneca, colher de sopa e faca.
Nunca fui atento aos detalhes. Hoje, eles são parte da minha vida, porque sei a catástrofe que a falta de uma colherzinha pode fazer no dia do meu amigo.