Alguém me escolheu para ser pai. Ainda não falei disso aqui no Blog porque sei que, quando ela ou ele nascer, amá-lo-ei incondicionalmente e escreverei centenas de milhares de textos para o tal ser. Sendo assim, nesse momento eu tento dominar a emoção me apegando as coisas mais cotidianas possíveis, como por exemplo, a montagem de pequenos móveis. Afinal, ser pai é criar o quarto do minúsculo Vir-a-ser com as próprias mãos. Principalmente aqui na Alemanha onde mão-de-obra é coisa cara. Na batatolândia tornei-me, por necessidade, um adepto do compre, carregue e se vire para montar a sua nova penteadeira… sozinho!

Até seria, não fosse o livreto de montagem ser elaborado por algum chinês com poucos conhecimentos de desenho ocidental, tornando uma possível decodificação, tarefa de conclusão do curso de engenharia moveleira.
Isso sem contar a pressão psicológica. Logo na primeira página o desenho de um relógio estima o tempo de montagem em trinta minutos.


Perdido em um boteco de periferia, no meio da bebedeira, ele ouve sem querer a conversa das outras mesas. Eis que em uma delas, um alemão musculoso, vestido com uma jardineira azul, camisa polo bege e calçando um sapatão com ponta de ferro, comenta que levou apenas vinte e dois minutos para montar um armário de três portas e cinco gavetas para a filha que está a fazer anos…
Não vou contar o final da história para vocês. No entanto, creio que podemos nos questionar sobre o motivo do alto índice de suicídios na Europa.
Quanto a mim… Levei dezessete minutos, nove segundos e três centésimos para montar o complexo Armário com rodas Tim, modelo número 29307010. Agora, com licença que o pai herói aqui vai abrir uma garrafa de vinho para comemorar.