O “Campus” de concentração

Outro dia minha mãe, depois de acessar o Vinhetas, me telefonou desesperada com o fato de eu estar no tal “Campus” de concentração. Ingênua, estabeleceu relações entre o país em que vivo e o seu trágico passado. Posso até imaginá-la toda aturdida na cozinha andando de um lado para o outro enquanto o aparelho chamava.

Naquela fatídica tarde, depois da aula eu, indignado com Thommy, proferia um sermão sobre ética, estética, limpeza, higiene e outras coisas mais. Para vocês terem uma ideia, meu amado torturador foi ao banheiro, não se limpou direito, sentou na cama, sujou minimamente o lençol e tentou encobrir o “grave” delito puxando a coberta. Depois me procurou e disse de peito estufado e sorridente como sempre, que havia arrumado a cama e que eu não precisava me preocupar nem passar lá para conferir. 

Bom, o fato é que ao escutar o tilintar do aparelho deixei Thommy, de cabeça baixa, a trocar o lençol. Subi rapidamente as escadas e me vi, diante da voz que exerce sobre mim descomunal autoridade, obrigado a explicar tudo.

Comecei com um “pelo amor de Deus mãe, é claro que NÃO!” A imaginação dela havia ido longe demais… Desde trajes listrados e estrelas de seis pontas costuradas neles.  Tive que amenizar, contar que na verdade “Campus” é o lugar aonde eu vou para me concentrar. Quem me conhece sabe o quanto a palavra concentração mexe comigo. A dor que é sentar imóvel, olhar um professor e fazer infindáveis anotações, a maioria sem valor algum. Sempre fui um garoto irrequieto, as professoras me detestavam, minhas notas eram medianas. Depois resolvi me entregar ao estudo da Filosofia porque tinha lido um livro de Heidegger que na verdade bulhufas entendi, mas que muito me encantou. Aquele emaranhado de frases versando sobre o nada que, por alguma razão tocavam meu coração. Através da genialidade do “nada nadifica”, descobri que eu próprio podia nadificar as coisas e assim faço até hoje.