Não sufoquem nossas lajotas!

uantas lajotas são necessárias para se fazer um calçamento? Bom, quem vive em nosso pequeno feudo, sabe que é preciso centenas de milhares. Transitar de carro pelas ruas e avenidas centrais de nosso município é se acostumar a dirigir uma batedeira ambulante. Você pode comprar um carro zero hoje, todo regulado e completamente silencioso, depois de uma semana o painel estará solto, cheio de ruídos estranhos e sacudindo inteiro. O mesmo acontece com quem anda de moto ou bicicleta.
Quando se estaciona e deixa o veículo, a cabeça continua chacoalhando, parece que você fica gesticulando que sim o tempo todo. É uma boa hora para se pedir algo, a mesada para o pai ou quem sabe um vale para o patrão. O efeito dura cerca de dez, quinze minutos. Varia de pessoa para pessoa, por isso se você quer algo é preciso ser rápido e aproveitar o calçamento.
Apesar de o asfalto, pelo menos na área central, ser uma reivindicação antiga do povo pomerodense, existe os ferrenhos defensores do calçamento. Já ouvi, em tempos distantes, vereador em discurso inflamado, com olhos marejados, dizendo que não é possível abafar, com o manto negro, essas pedras (acho que na concepção dele as pedras são seres vivos) que viram crescer e se desenvolver a nossa pujante cidade. Aqui, com exceção dos pequenos trechos, impostos pela indústria, asfaltar é sinônimo de assassinar.
Outro “fortíssimo” argumento é o de que essas lajotas não podem ser sufocadas ou removidas porque representam a tradição alemã do nosso município. Ano passado, quando fui para Alemanha, percorri o país inteiro na busca de uma cidade onde houvesse tantas pedras, encontrei apenas duas ou três ruas, todas históricas e onde já não circulam mais veículos. Tudo completamente diferente daqui, pois como me disse um alemão “uma tradição dessas ninguém quer!”
Agora, ser turista e passear com uma de nossas históricas charretes, no intuito de apreciar o bucolismo e a pacatez de Pomerode, por um centro asfaltado, certamente não seria tão charmoso e instigante como é sentir a ancestralidade das rodas de madeira e ferro em nosso lindo, porém desnivelado calçamento.