Meu querido Pomeroder Zeitung

O Pomeroder quase nunca acaba na minha caixinha de correspondência. Já virou hábito eu pedir para o porteiro se já chegou o “meu” jornal. Quando ele responde que sim, o dia fica diferente. Descer do carro, normalmente pegar a mochila, uma ou duas sacolas (de tecido) com compras e subir na corrida os quarenta e oito degraus que levam até o meu apartamento.Na área de serviço eu tiro o tênis empoeirado, jogo o par de meias no cesto, caminho pela cozinha, coloco água na cafeteira, verifico se tem pó, sigo até a mesa da sala e deixo o jornal. Volto e abro a geladeira, pego o açúcar mascavo e o leite. Com o café pronto, me dirijo novamente à sala, onde sento e começo a leitura.Primeiro procuro se tem algum texto meu. Quando encontro, leio com calma e tento ser o mais crítico possível. Depois vou para a capa e sigo com as matérias e colunas até a última página. Nomes e rostos conhecidos de pessoas que se casaram ou tiveram filhos, às vezes aparecem. Legal é decifrar a quanta anda a nossa política, não só no aspecto partidário, mas no contexto filosófico dessa palavra, coisa que Heike e sua trupe sabem fazer muito bem.Uma brincadeira divertida nos finais de tarde em que chega o Pomeroder é lembrar como eram as coisas, na minha visão, quando eu ainda morava lá e como elas são hoje. Piores ou melhores não importa. O fato é que tudo está sempre em transformação e esse instigante jornal, a cada quinzena, faz com que eu olhe novamente para o lugar de onde eu vim e perceba que talvez Pomerode não seja tão parada, muda e simpática como um dia cheguei a pensar que fosse.