Meu adorável grupo de Rúgbi

Nutrição é sem dúvida a matéria que despertou minha atenção durante o semestre. A estreita relação com anatomia deixou-me extasiado, além da química toda que acontece com o alimento em nosso corpo.  A professora, no entanto, assim como as outras, sempre tirando lasquinhas do Brasil com perguntas do tipo: Para vocês, existe soja não transgênica? Você sabia que o Brasil é o líder mundial no uso de agrotóxicos?
Enfim, depois de muita tortura ela nos deu um trabalho de final de semestre. Tínhamos que montar um cardápio para um grupo de pessoas portadoras de necessidades especiais. O cardápio deveria ser extremamente sincronizado, ou seja, precisávamos levar em consideração as estações do ano, as atividades de cada um e o seu BMI, além do mais, teríamos que contar com um caso especial.

Alguém alérgico, intolerante a lactose ou glúten, diabético, etc.
Antes de terminar a aula a mulher nos disse em claro e bom tom que deveríamos deixar nossa imaginação livre, que erámos para criar situações diferentes, grupos inusitados…
Motivado pela última frase, montei um cardápio rico em carboidratos para um grupo de jogadores de Rúgbi com Síndrome de Down que disputam a série A do campeonato alemão. Passei noites e finais de semana elaborando o bendito cardápio, folhas e folhas descrevendo o grupo. Eis que dias após a entrega a docente me olha e diz… Sr. Quadros, eu gostei da sua brincadeira, mas onde está o trabalho?
 Trabalho? Respondi estupefato. Em suas mãos, como havia de ser, ora bolas.
Com pequenos ataques de riso, escrevendo em seu diário, ela comenta… Ficou muito bom, não fosse o grupo.

Resolvi argumentar… A senhora falou em imaginação. Desde quando pessoas com Síndrome de Down não podem jogar rúgbi?

A mulher então ficou séria e se manifestou raivosa…O que virá no próximo semestre? Possivelmente um time de xadrez composto por histéricos servindo-se de arroz com Ginko Biloba.  E por que não?  Insisti no ataque e me justifiquei… Fiz tudo dentro dos padrões.

Sim, mas esse grupo não condiz com a realidade. Diz-me ela. Sim, imaginação muitas vezes não condiz com a realidade. A essência, porém, daquilo que a senhora queria está aí. Respondi.

O diálogo não duraria muito mais. Valendo-se da autoridade que lhe é cabida, me colocou duas opções: refazer o trabalho sem o time de Rúgbi e ganhar uma boa nota ou permanecer com a equipe e ser coroado com a nota mínima.
Aceitei, sem dúvida nenhuma, a segunda, mas com um pequeno adendo depois do ponto final. Que o tal time sagrou-se, através da excelente alimentação, campeão nacional de Rúgbi…